Arquivo Centro de Memória Tropa de choque da PM controla ato político na Lapa |
No dia 21 de julho de 1983, cerca de três milhões de trabalhadores paralisaram suas atividades na maior greve geral ocorrida durante o regime militar. Como reflexo de todo esse processo de lutas, houve um aumento significativo da participação dos trabalhadores em seus sindicatos.
Os sintomas da eleição do presidente norte-americano Ronald Reagan, em 1981, que, de mãos dadas com a primeira ministra britânica, Margareth Thatcher (eleita em 1979), orquestrou uma política econômica internacional calcada no estado mínimo e na austeridade fiscal, apareceriam rapidamente: a partir de 1981 os juros internacionais foram brutalmente elevados.
No Brasil, a economia entrou em colapso e, em 1982, o governo militar recorreu aos empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI), que impôs severas condições para efetuar a transação. Subordinado ao FMI, o País teve que mudar as regras para a política salarial, ajustando os vencimentos abaixo da inflação e, para os gastos do governo, minimizando os investimentos na área social.
A elevação do desemprego e do custo de vida foram as consequências imediatas. E a imposição de uma série de decretos pioraria ainda mais a vida dos trabalhadores.
Após a divulgação do decreto 2025, de 30 de maio de 1983, que eliminava benefícios e direitos dos empregados das estatais e do funcionalismo público, os trabalhadores aprovaram, no dia 16 de junho, o estado de greve.
O governo militar chegou a recuar de sua decisão. Treze dias depois, entretanto, o presidente Figueiredo assinou um novo Decreto, o 2036, que retirou direitos elementares do funcionalismo, como abono de férias, promoções, auxílios alimentação e transporte, salário adicional anual e a participação nos lucros.
Manifestações contra as medidas se espalhavam pelo País. Mas, mais um decreto ainda estava por vir: o famigerado 2045, de 14 de julho de 1983, que arrochou ainda mais os salários e atingiu os aluguéis e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
Seguiu-se daí uma grande mobilização entre os trabalhadores, que se prepararam para a greve. O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo distribuiu um milhão de panfletos convocando os trabalhadores para a paralisação, e a Comissão Pró-CUT do Estado de São Paulo anunciou a distribuição de 1,2 milhão de comunicados com a seguinte pauta de reivindicações:
• Fim das intervenções e devolução dos sindicatos de Campinas, Bahia e São Bernardo.
• Fora o pacote das estatais – Decreto-lei 2036.
• Fim do roubo no INPC – contra os Decretos do arrocho 2012, 2014 e 2045.
• Revogação do Pacote do BNH.
• Congelamento dos preços dos itens de primeira necessidade.
• Criação de empregos e de salário desemprego.
• Estabilidade.
• Redução da jornada de trabalho sem redução dos salários.
• Reforma agrária.
• Fora o FMI.
Uma semana depois da decretação do 2.045, cerca de três milhões de trabalhadores, de diversas categorias e Estados, paralisaram suas atividades na maior greve geral ocorrida durante o regime militar.
O dia 21 de julho de 1983, uma quinta-feira, amanheceu como um feriado. Entre os grevistas, a adesão de 255 motoristas e cobradores de ônibus reforçou ainda mais o clima de paralisação que dominava a cidade de São Paulo. E a cavalaria da Polícia Militar, que tomou o centro da cidade, promoveu uma intensa repressão, com mais de oitocentas prisões.
Apesar disto, os trabalhadores conseguiram derrubar os Decretos 2036 e 2045, e a greve foi considerada positiva.
O Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo teve uma forte participação naquele movimento. “Metalúrgicos de São Paulo, Um Projeto, Um Processo, Uma Realidade”, documento publicado pelo Sindicato em dezembro de 1983, relata que 90% dos metalúrgicos da Capital aderiram à greve, e que todo esse processo de lutas contra os decretos levou a um expressivo aumento da participação dos trabalhadores nas assembleias.
*Carolina Maria Ruy é jornalista, coordenadora de projetos do Centro de Cultura e Memória Sindical