Paulo Pereira da Silva
A inflação coloca em risco conquistas importantes dos últimos anos; sua volta deve-se em muito à incompetência da atual equipe econômica
Neste 1º de Maio, os trabalhadores têm muito a comemorar.
Hoje, a Consolidação das Leis do Trabalho completa 70 anos. Esse verdadeiro patrimônio da classe trabalhadora será muito enaltecido durante as comemorações do Dia do Trabalho pelas centrais sindicais Força Sindical, União Geral dos Trabalhadores (UGT), Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) e Nova Central, em São Paulo e em dezenas de outras cidades do país.
Conquistas como férias remuneradas, licença-maternidade, FGTS, segurança e medicina do trabalho, organização sindical, entre outras, estão contempladas na CLT.
Mas as comemorações vêm tingidas de preocupação com a volta da inflação. De acordo com números recentes do IPCA, a inflação acumulou uma alta de 6,59% em março, estourando, assim, o teto da meta inflacionária estabelecido pelo próprio governo federal.
Como sabemos, a inflação corrói o poder de compra e impõe sacrifícios às pessoas de menor renda.
Para exemplificar, o aumento de preços nos últimos 12 meses, segundo o IPCA, é de 30% no valor do arroz, 76% no da cebola, 25% no do feijão preto, 97% no da batata, 151% no da farinha de mandioca, 122% no do tomate e 16% no da cerveja.
A inflação coloca em risco conquistas importantes dos últimos anos. A Força Sindical, então, está orientando suas entidades filiadas a brigar por reajuste salarial trimestral. A recomendação vale para categorias que estão em campanha por aumento salarial e visa a combater a corrosão do poder aquisitivo dos trabalhadores.
A volta com força da inflação deve-se em muito à incompetência da atual equipe econômica. Se o PIB de 2011 foi chamado de “pibinho”, ao subir 2,7%, o que dizer do de 2012, que caiu para 0,9%? Isso compromete o reajuste do salário mínimo, conquistado pelas centrais. E o que dizer dos juros, que, mesmo sendo trava para o crescimento e o consumo, voltaram a subir na última reunião do Banco Central?
Como vamos alcançar níveis de crescimento mais robustos e sustentáveis se aumentamos os juros toda vez que os rentistas exercem pressão sobre os membros do Copom?
Infelizmente os tecnocratas se curvam aos especuladores e viram as costas para os trabalhadores.
São reflexos de um governo que não dialoga com as centrais sindicais para ouvir as demandas, as soluções e enfrentar, juntos, os desafios. A agenda presidencial é reservada para os grandes empresários. A presidente firmou um compromisso com as centrais na campanha de 2010, mas tem ficado na promessa.
Nesse modelo de governo, os críticos são tratados como adversários a serem fulminados. Só para lembrar, como fomos críticos ao modelo proposto na MP dos Portos, que prejudicava os trabalhadores portuários, sofremos espionagem da Abin, que visava intimidar e amordaçar o movimento sindical.
O governo precisa, em sintonia e em diálogo com os trabalhadores e com o setor produtivo, aprofundar a política de fomento à economia.
Temos uma pauta trabalhista –fruto da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora realizada em 2010, em São Paulo, e entregue a Dilma, após uma marcha que reuniu cerca de 40 mil pessoas– que cobra o fim do fator previdenciário, jornada de 40 horas semanais, reajuste para os aposentados, juros menores, correção permanente da tabela do Imposto de Renda e valorização dos servidores públicos.
Qualquer projeto de desenvolvimento democrático deve incorporar as reivindicações trabalhistas, o que é fundamental para conquistarmos crescimento econômico com desenvolvimento social, distribuição de renda e empregos de qualidade.
PAULO PEREIRA DA SILVA, o Paulinho, 57, preside a Força Sindical e é deputado federal (PDT-SP)