Análise: Impacto maior da medida será na cadeia de fornecedores

EDUARDO SODRÉ
EDITOR-ADJUNTO DE “VEÍCULOS”

O maior impacto da nova meta de conteúdo nacional não se dará nas linhas de produção das grandes fábricas de automóveis, mas, sim, no entorno delas. Caberá aos fornecedores a tarefa de entregar os componentes que farão a conta fechar.

Prioritariamente, um fabricante de carros produz estamparias (as partes de aço da carroceria), chassis, monoblocos e motores. Mas não faz vidros, faróis, plásticos, pneus, bancos ou componentes elétricos.

Tais partes cabem aos sistemistas, empresas que acompanham o desenvolvimento dos novos modelos desde o início e fornecem as peças encomendadas de acordo com os padrões estabelecidos pela montadora.

Portanto, a implementação gradativa dos 70% de conteúdo local ou do Mercosul irá mexer com a periferia das grandes fábricas e poderá provocar o surgimento de novos polos industriais.

A operação não é simples, pois envolve investimento em infraestrutura e planejamento de médio e longo prazos.

Os grandes polos industriais têm como principal característica a integração dos meios de produção e escoamento.

É assim tanto em Detroit, nos Estados Unidos, como na cidade chinesa de Wuhu, onde os carros da Chery saem da linha de produção diretamente para os navios.

No Brasil, exemplos recentes como a instalação da Ford em Camaçari (BA) e do grupo PSA Peugeot Citroën em Porto Real (RJ) mostram o êxito dos polos, cujo poder de gerar empregos se conta em milhares de vagas.

DESCOMPASSO
Contudo, há um descompasso entre o aumento do conteúdo regional e a renovação dos modelos nacionais. Hoje, os carros cujos componentes locais chegam a 70% ou mais são, em sua maioria, modelos defasados em comparação às novidades do mercado.

Carros que entraram em produção no Brasil em 2011 e 2012, mas que já haviam sido lançados em outros mercados, ainda estão longe do objetivo desejado pelo governo. É o caso do Chevrolet Cruze e do Toyota Etios, por exemplo.

A indústria terá de acelerar o processo de nacionalização de peças, o que envolve custos de desenvolvimento e novos acordos comerciais com os sistemistas, que provavelmente terão de expandir suas unidades fabris.

É cedo para dizer se tais movimentos terão impacto no preço dos carros.

Mas a disposição do governo em manter o mercado aquecido para elevar o número de vagas na indústria automotiva leva a crer que não haverá aumentos.