Associação nega onda de demissões no setor e diz que montadoras encerraram junho com 3 mil empregos a mais do que há um ano
CLEIDE SILVA
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informa que não há onda de demissões no setor. Ao contrário, as fabricantes encerraram junho com 127 mil trabalhadores (não inclui o segmento de máquinas agrícolas), 3 mil postos a mais do que há um ano. Só no mês passado foram abertas 1,9 mil novas vagas. Na semana passada, a Fiat anunciou 600 contratações em Betim (MG) para ampliar a produção.
“Se houve um recado por parte da presidente Dilma Rousseff para setores que estão demitindo, não foi dirigido a nós”, afirma um porta voz da entidade.
A Anfavea admite que há um “problema pontual” envolvendo a fábrica da General Motors de São José dos Campos (SP) – que estuda demitir 1,5 mil trabalhadores – mas cabe à empresa explicar suas razões ao governo.
O Ministério da Fazenda convocou a direção da GM para um encontro na terça-feira, em Brasília, para falar sobre o tema. O ministro Guido Mantega, que retornará de férias, poderá participar da reunião. Foi ele quem anunciou o corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os automóveis no fim de maio, medida que visava a recuperação das vendas e redução de estoques. A contrapartida é a manutenção de empregos.
Também na terça-feira, a Anfavea terá reunião com a equipe do Ministério da Fazenda, mas o porta voz da entidade afirma que o encontro já estava marcado há alguns dias e a agenda é o novo regime automotivo, que entrará em vigor em janeiro. A entidade tem feito constantes reuniões para discutir o tema com membros do governo.
“Não fomos convocados para tratar de questões sobre emprego”, diz o porta voz, que admite o fato de o assunto ser incluído na agenda, caso o governo queira.
A GM não quis comentar as declarações de Dilma e informou que, na terça-feira, apresentará dados ao governo mostrando que não está descumprindo o acordo. A empresa tem dito que está contratando trabalhadores nas outras unidades do grupo em São Caetano do Sul (SP) e de Gravataí (RS) e para a fábrica de motores em Joinville (SC), que será inaugurada no fim do ano.
No caso do complexo de São José dos Campos, que tem oito fábricas e emprega 7,2 mil pessoas, a GM deve fechar a unidade chamada de MVA, onde trabalham 1,5 mil metalúrgicos e que produzia os modelos Classic, Corsa, Meriva e Zafira. Os três últimos já saíram de linha.
A Meriva e a Zafira foram substituídas pelo Spin, lançado em junho e produzido em São Caetano. O Corsa será substituído por um novo modelo da chamada família Ônix, que será fabricada em Gravataí no início de 2013.
No dia 4, a GM vai se reunir com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, do Ministério do Trabalho e da Prefeitura local para discutir propostas que possam evitar a demissão em massa.
Desde junho, a empresa já realizou dois programas de demissão voluntária (PDV), com a adesão de 356 funcionários.
Ontem, em meio aos festejos de 245 anos de fundação de São José dos Campos, um grupo de sindicalistas distribuiu 20 mil panfletos convocando a população a se mobilizar a favor dos trabalhadores. “Queremos sensibilizar a população sobre a gravidade do assunto. Precisamos ampliar o movimento e mostrar que a GM não tem razões para demitir. No ano passado ela faturou R$ 8,5 bilhões e vai muito bem”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Antonio Ferreira de Barros.