Apesar dos esforços para aumentar natalidade, número de crianças diminui na Alemanha

Da Redação

 

Alemanha tem menos crianças do que qualquer outro país na Europa

Apesar de subsídios substanciais voltados para o aumento da taxa natalidade, o número de crianças na Alemanha continua encolhendo. Um novo relatório do governo federal revelou que há 14% menos crianças abaixo de 18 anos do que em 2000 – e 15% delas, de forma alarmante, vivem na pobreza.

Para a Alemanha, os números são o sinal de alarme de uma bomba relógio demográfica numa sociedade em rápido envelhecimento. O número de crianças abaixo dos 18 anos na Alemanha caiu para 13,1 milhões em 2010. A queda aconteceu apesar de esforços consideráveis por parte do governo alemão para reverter o declínio da taxa de natalidade através de subsídios oferecidos diretamente para os pais e o cuidado infantil.

Como uma porcentagem da população total, a Alemanha tem menos crianças do que qualquer outro país na Europa. Apenas 16,5% da população tem menos de 18 anos de idade. Em outros países europeus, como a França, a Inglaterra e a Holanda, esses números estão bem acima de 20%. Na Turquia, quase um terço da população do país de mais de 72 milhões de pessoas é mais jovem do que 18 anos. Os países na Europa com a menor população de crianças são a Alemanha, Bulgária (16,7%) e a Itália (16,9%).

O estudo, apresentado em Berlim e baseado em dados de um micro-censo de 2010 na Alemanha, também fornecem outros números alarmantes relacionados à pobreza infantil.
Entre outras coisas, o relatório revelou que:

• 15% das crianças na Alemanha vivem na pobreza

• Crianças criadas por pais solteiros estão especialmente em situação de risco. Cerca de 37% delas correm o risco de cair abaixo da linha de pobreza

• Cerca de 1/3 das crianças filhas de pais solteiros vivem em lares que recebem assistência social para pessoas desempregadas há muito tempo, os benefícios chamados “Hartz IV”

• 7% do total de lares afirmaram que não conseguiam pagar atividades extra-escolares para seus filhos

• Cerca de um quinto dos lares não tiram férias anuais

• Na maioria dos lares, entretanto, necessidades fundamentais como alimentação e vestuário são satisfeitas, bem como festas de aniversário anuais

Contraste grande entre leste e oeste

Michael Kruse, porta-voz do Fundo Alemão para as Crianças (Deutsche Kinderhilfswerk), disse que esses números “não são aceitáveis”, e pediu para o governo fazer mais para finalmente “lutar com seriedade” contra a pobreza na infância.

Enquanto isso, Berthold Huber, chefe do influente sindicato dos metalúrgicos IG Metall, culpou os baixos salários pelo número de crianças vivendo na pobreza. Huber pediu mais “justiça no mercado de trabalho”. Seu sindicato está pedindo salários mais justos para os trabalhadores temporários, o estabelecimento de salários mínimos e melhores oportunidades para mulheres para deixarem os empregos de meio período por empregos em período integral.

Observando uma divisão severa entre leste e oeste, o Departamento de Estatísticas revelou que as crianças que vivem no leste da Alemanha, onde as taxas de desemprego são altas, têm mais risco de viver na pobreza. Nesses estados, a taxa de natalidade caiu dramaticamente. De 2000 a 2010, o número de crianças nos cinco estados do leste da Alemanha caiu 29%.

As estatísticas sugerem que o modelo tradicional – em que o pai, mãe e filhos vivem juntos sob um teto – parece estar desaparecendo no leste. Nos estados ocidentais, 79% das crianças vivem em lares em que os pais ainda são casados, mas isso só vale para 58% das crianças do leste da Alemanha. Lá, cerca de 17% das crianças estão sendo criadas por pessoas solteiras, enquanto esse número é de apenas 6% no oeste. No oeste da Alemanha, 15% das crianças são criadas por pais solteiros em comparação com 24% no leste.

Iniciativas do governo não conseguem ganhar ímpeto

O governo alemão vem tentando há vários anos reverter esse declínio das taxas de natalidade e população infantil. Berlim aprovou medidas oferecendo uma licença maternidade mais generosa, e em alguns casos licença paternidade, e oferece subsídios mensais para compensar o custo de ter filhos bem como de enviá-los para o berçário.

Ainda assim, a Alemanha não se mostrou tão flexível como outros países europeus para tornar a sociedade mais amigável em relação aos pais que trabalham.

Em sua página editorial na quinta-feira (4), o jornal Süddeutsche Zeitung, de centro-esquerda, escreveu: “Agora, como antes, o principal problema ainda não foi resolvido. A Alemanha paga bilhões para as famílias. Apesar de todos os benefícios e subsídios, isso não teve muito efeito. Nas vizinhas França e Dinamarca, há menos pobreza infantil e a porcentagem de crianças em relação ao total da população é maior. Isso acontece porque as pessoas são mais capazes de conciliar a família e a vida profissional nesses países. Também há mais oferta de berçários para crianças abaixo de três anos e escolas em tempo integral (que são menos comuns na Alemanha). Isso torna mais fácil para as mulheres decidirem ter filhos.

Além disso, a quota de mulheres que trabalham é maior do que na Alemanha.”

Enquanto isso, o jornal Der Tagesspiegel de Berlim, acrescenta: “O que talvez diferencie a Alemanha de seus vizinhos ainda mais do que um sistema de cuidado infantil totalmente insuficiente é uma espécie de cultura de receber os recém-nascidos. Na Finlândia, por exemplo, o governo fornece às mulheres grávidas um pacote de boas vindas para seu bebê, com roupas, brinquedos, e coisas práticas necessárias nas primeiras semanas após o nascimento. Na Alemanha, a primeira coisa que os novos pais recebem do governo pelo correio é um formulário de imposto: cada recém-nascido recebe imediatamente um número de contribuinte.”

Tradução: Eloise De Vylder