Com desemprego e expectativa de vida em alta, mais lares no país são sustentados pela renda dos idosos
Aos 72 anos, o aposentado José da Cruz Pereira é responsável por pagar todas as contas de sua casa. Apesar de morar com uma filha de 37 anos, e três netos, de 11, 18 e 19 anos, ele é o único que possui renda fixa. “Os maiores de idade não estão trabalhando e por isso eu assumo os gastos da família.” Para arcar com as despesas, além do salário mínimo que recebe do INSS, o aposentado se mantém no mercado de trabalho.
Ele complementa a renda com a venda de álbuns de formatura. “Eu gosto de trabalhar, por enquanto não penso em parar.
Assim como na família de Pereira, os lares brasileiros que dependem da grana de aposentados estão em ascensão. Em um ano, a parcela de casas em que mais de 75% do ganho mensal vem de idosos subiu 12%, de 5,1 milhões para 5,7 milhões.
Os dados foram elaborados pela LCA Consultores, com base na Pnad Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Segundo informa o instituto, desde 2016 há uma forte tendência de crescimento dos domicílios cuja principal fonte de renda são aposentadorias e pensões.
O engenheiro Eloi Gallego, de 71 anos, se preparou por 4 décadas para a aposentadoria. Seu objetivo era aproveitar o tempo livre para fazer viagens com a esposa.
Porém, quando sua filha e seu genro ficaram desempregados, Gallego assumiu todas as despesas familiares. “Como eu decidi não deixá-los perder a qualidade de vida que tinham, as contas aumentaram. Agora é necessário fazer economias na rotina”, diz o aposentado.
Para Thiago Luchin, advogado especialista em direito previdenciário, o principal risco das famílias contarem apenas com a aposentadoria é a desvalorização do dinheiro. “Com o tempo, o poder aquisitivo diminui. Como o reajuste é baixo, a cada mês o dinheiro vale menos”.