Artigo: Aguerrimento dividido

João Guilherme Vargas Neto

Uma pequena nota na Folha de ontem, segunda-feira, informa que quatro das Centrais Sindicais reconhecidas (FS, UGT, CSB e Nova Central) irão amanhã ser recebidas pelo vice-presidente e “cobrarão menos juros e mais empregos”.

Esta visita, articulada pelo presidente do Solidariedade, que é também presidente da Força Sindical, tem como um dos objetivos apresentar a Temer a pauta do movimento sindical, que será uma atualização do último documento unitário firmado pela cúpula do movimento: o “Compromisso pelo Desenvolvimento”.

É óbvio que, em se tratando de uma visita ao vice-presidente, nem todas as Centrais aceitariam fazê-lo na atual conjuntura de transição: a CUT, a CTB e as Centrais de esquerda (ainda que não reconhecidas) interpretam tal visita como adesão pura e simples e como busca de cargos. O risco de divisão é iminente.

Mas, assim como está acontecendo no mundo dos partidos políticos, principalmente no PSDB e no PSB, a aproximação com Temer não deve significar para o movimento sindical o abandono de sua pauta unitária em nome da adesão ao eventual governo transitório e de benesses ilusórias.

Algumas Centrais aceitam a aproximação, outras não. Mas o que todas têm em comum e que evita a divisão é a forte resistência à quebra de direitos sindicais e trabalhistas defendida abertamente por grandes apoiadores de Temer.

Isso ficou bem claro no “Compromisso para Transformar o Brasil”, na nota dos metalúrgicos de São Paulo e da CNTM e no próprio manifesto dos apoiadores sindicais de Temer que foi publicado.

Ficou bem claro também na página inteira divulgada pela UGT nos grandes jornais paulistas no domingo (24).
O que eu defendo: apesar das tensões atuais e das divisões partidárias e ideológicas, o movimento sindical deve fazer um esforço consequente e estratégico para manter sua pauta sindical unificada capaz de garantir a assinatura, não só das quatro Centrais visitantes, mas das duas reconhecidas que não irão e até mesmo daquelas ainda não reconhecidas.

Um documento unitário de tal porte (apesar das análises, orientações, pretensões e posicionamentos distintos) terá certamente mais impulso positivo na luta pela retomada do desenvolvimento e em defesa dos direitos que o aguerrimento dividido, seja de um lado, seja do outro.

João Guilherme Vargas Neto é consultor de diversas entidades sindicais e membro do corpo técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar)