Noventa empresas foram responsáveis por 63% de todas as emissões de CO2 na atmosfera
Noventa empresas são responsáveis por 63% de todas as Emissões de gases-estufa desde a Revolução Industrial, em meados do século XVIII. A grande maioria das companhias é ligada à produção de gás, petróleo ou carvão, segundo estudo divulgado ontem pelo jornal “Guardian”. As empresas listadas emitiram 914 gigatoneladas de CO2 entre 1751 e 2010. No ranking figuram multinacionais como British Petroleum, Chevron e Exxon Mobil.
A Petrobras é a única empresa brasileira presente no estudo. A petrolífera liberou 5,99 gigatoneladas de CO2 desde sua criação — o equivalente a 0,41% de todas as Emissões de gases-estufa provocadas pelas companhias. Estima-se que metade das Emissões foram realizadas nos últimos 25 anos. No início deste período, a comunidade científica já estudava a possibilidade de que a ação humana era responsável pelas Mudanças Climáticas.
O estudo divulgado pelo “Guardian” ressalta como as Emissões podem ser agravadas. Afinal, a maioria das empresas que mais poluem o planeta contam com grandes reservas de combustíveis fósseis. A queima destas substâncias jogaria ainda mais CO2 na atmosfera, contribuindo para o Aquecimento Global.
Conflitos na Conferência do Clima
Reunidos em Varsóvia na 19ª Conferência do Clima (COP-19), mais de nove mil delegados de cerca de 190 países parecem cada vez mais distantes de um acordo que limite as Emissões de CO2 para frear o aumento da temperatura global. Os países em desenvolvimento, reunidos no bloco G77, se queixam da demora para a criação de um mecanismo de perdas e danos, em que nações atingidas por eventos extremos receberiam auxílio financeiro para sua recuperação. Esperava-se que este acordo fosse o maior legado da conferência.
O debate estendeu-se até às 3 horas da madrugada de ontem, quando os países-membros do G77 abandonaram o plenário. Outra controvérsia é a criação de um acordo que estabeleça, até 2020, metas obrigatórias para a redução de Emissões de CO2. Os rascunhos do novo documento geraram divisões entre o G77 e a China, que integra o bloco.
Alguns países africanos passaram a negociar diretamente com a União Europeia. — Estes são exemplos da dificuldade para que um texto seja aprovado por todas as nações — lamenta André Nahur, coordenador interino de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil. — Os países insistem em um modelo de negociação que adia um tema (as Mudanças Climáticas) que já afeta a vida das pessoas. O G77 usa o tufão Haiyan — que provocou mais de 4 mil mortes em sua passagem pelas Filipinas, no início do mês —, como um exemplo de sua necessidade por recursos estrangeiros após desastres naturais.
Resistência a compromisso formal
As nações desenvolvidas, no entanto, resistem a pagar as contas dos países em desenvolvimento. EUA e União Europeia alegam que sua prioridade é a recuperação de suas economias. — Não podemos ter um sistema que nos obrigue a contribuir financeiramente depois de qualquer evento extremo em qualquer parte do mundo — ressalta a comissária europeia para a Ação Climática, Connie Hedegaard. Mesmo resistentes a um compromisso formal, alguns países desenvolvidos buscam outros métodos que mostrem sua disposição para evitar as Mudanças Climáticas.
Ontem, EUA, Noruega e Reino Unido anunciaram que vão destinar US$ 280 milhões para o combate ao Desmatamento e o incentivo à agricultura sustentável. A queima de Florestas é responsável por cerca de 20% das Emissões de gases- estufa. A área verde devastada por ano tem um tamanho equivalente ao da Costa Rica. No Brasil, o ritmo de Desmatamento na Amazônia subiu 28%, de agosto de 2012 a julho deste ano. Para combater um novo avanço deste índice, o Ministério do Meio Ambiente lançou ontem, em Varsóvia, uma plataforma que tornará mais transparente as ações que evitam o desflorestamento.
O sistema acompanhará as metas assumidas pelo país para limitar a liberação de gases-estufa para a atmosfera. Na COP-15, o governo anunciou sua intenção em reduzir, até 2020, entre 36,1% e 38,9% suas Emissões de CO2. Em outro evento em Varsóvia, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável alertou, em um novo relatório, que a liberação de gases-estufa do Brasil está aumentando em diversos setores. Na matriz energética nacional, as Emissões de CO2 crescem 3,5% ao ano, devido à perda de participação das Hidrelétricas para fontes não renováveis. Os dados estão no estudo “Adaptação e Vulnerabilidade à Mudança do Clima: o caso do setor elétrico brasileiro”.