Maurício Hashizume |
Uma animada multidão lotou o auditório da Faculdade de Direito da Universidade El Manar, sede das atividades do FSM, para ouvir representantes das lutas das mulheres contra o patriarcado, o sexismo e outras formas de opressão contra as mulheres. Bandeiras, faixas, cartazes e gritos de guerra compuseram o cenário daquilo que foi uma espécie de “aquecimento” dos debates do FSM. Por Maurício Hashizume, de Túnis
Túnis – O primeiro evento do Fórum Social Mundial (FSM) 2013 não foi a tradicional marcha que perpassa ruas da cidade-sede do encontro. Ativistas das mais diferentes partes do mundo se reuniram no final da manhã desta terça (26/3) na Assembleia de Mulheres, novidade trazida pelas feministas da Tunísia.
Seis horas antes do início da marcha no centro da cidade, uma animada multidão lotou o auditório da Faculdade de Direito da Universidade El Manar, sede das atividades do FSM, para ouvir representantes das lutas das mulheres contra o patriarcado, o sexismo e outras formas de opressão contra as mulheres. Bandeiras, faixas, cartazes e gritos de guerra compuseram o cenário daquilo que foi uma espécie de “aquecimento” dos debates do FSM.
Uma das figuras centrais no bojo da convocação, Halima Jouini, da Associação Tunisiana das Mulheres Democratas (ATFD) disse à Carta Maior que as mulheres desempenharam um papel central nas revoltas que fizeram cair o governo ditatorial de Ben Ali, há pouco mais de dois anos. “A luta das mulheres na Tunísia não vem de hoje [o divorcio e a poligamia, por exemplo, foram banidas por lei desde meados da década de 1950]. Temos lutado intensamente durante décadas pela liberdade, contra a corrupção e as injustiças sociais, mas infelizmente ainda continuamos enfrentando uma situação muito difícil dentro do país”.
Segundo Halima, o governo atual do partido islâmico Ennahda vem boicotando a luta feminista por meio de estratégias meticulosas como associar a luta pelos direitos das mulheres com as demandas do movimento de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros (LGBT) com vistas a dificultar a aceitação de mudanças por parte da sociedade tunisiana. A possibilidade de fundação de um novo partido político apoiado pelas mulheres organizadas é refutada pela ativista, que integra a Liga Tunisiana de Direitos Humanos (LTDH). Ela reconhece a importância das agremiações de esquerda na formação dos jovens e prefere enfatizar o desafio de garantir direitos ao conjunto de cidadãs e cidadãos, sem que seja necessário criar novas estruturas próprias.
Associadas à Marcha Mundial das Mulheres, ativistas tunisianas abriram o microfone para que militantes de diferentes partes do mundo pudessem expor os problemas que vêm enfrentando nas distintas circunstâncias em que vivem.
Outra importante militante do Norte da África, Lahrech Touriya, do Marrocos, ressalta ainda a existência de uma articulação entre os movimentos feministas da Argélia, Tunísia e Marrocos no sentido de garantir avanços garantidos por lei em Estatutos das Mulheres. O país de Lahrec, que chegou a ter seis ministras mulheres no governo passado, tem atualmente apenas uma representante do sexo feminino no primeiro escalão do governo islâmico do Partido da Justiça e Desenvolvimento.
Um dos elos entre as falas em variadas línguas das mulheres que estiveram no palco foi a questão da importância da luta por outros modelos de desenvolvimento como fator extremamente relevante para os direitos das mulheres. A brasileira Gislei Knierim, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Via Campesina, enfatizou a crítica à expansão do agronegócio, que resulta em vários tipos de violência contra as mulheres. Ela frisou que, mesmo em contextos nos quais tenha havido algumas conquistas como na América Latina, os enfrentamentos para a ressignificação de espaços deve ser constante para que não haja retrocessos.
O entrecruzamento das demandas das mulheres com a busca de alternativas no campo econômico também sobressaiu nas falas de feministas da Europa. Ativistas da Espanha e da França realçaram, entre outros pontos, a importância do trabalho e do desmonte de políticas públicas, bem como a relevância da economia social e solidária.