Ata do Copom reforça expectativa de ritmo menor de alta de juro

Na ata da reunião do Copom, BC volta a defender política monetária ´especialmente vigilante´ para atenuar riscos inflacionários.

O Banco Central voltou a defender que a política monetária se mantenha “especialmente vigilante” para atenuar os riscos de persistência dos “níveis elevados de inflação” na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem. Entretanto, desta vez a posição veio acompanhada de uma ponderação sobre o tempo que leva para as mudanças da taxa básica de juros terem efeito sobre o comportamento dos preços da economia.

A mensagem foi interpretada por analistas como a confirmação da sinalização dada na semana passada, em comunicado divulgado logo após a reunião do Copom de novembro, de que o ritmo de alta de juros poderá ser reduzido de 0,5 ponto percentual para 0,25 ponto em janeiro. Mas, para alguns deles, a indicação de desaceleração no aperto monetário foi mais fraca do que o esperado, deixando uma porta aberta para uma eventual alta de 0,5 ponto.

“O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante”, diz a ata da reunião do Copom que subiu os juros de 9,5% para 10% ao ano. “Ao mesmo tempo, o comitê pondera que a transmissão dos efeitos das ações de política monetária para a inflação ocorre com defasagens.”

A decisão de elevar o juro foi tomada, afirma o BC na ata, diante da constatação de que os altos índices de preços dos últimos 12 meses contribuem para que a inflação ainda mostre “resistência”. O comitê voltou a manifestar preocupação com os mecanismos informais e formais de indexação e com a percepção dos agentes econômicos sobre a dinâmica da inflação.

Segundo a ata, as projeções de inflação do Copom para 2014 se mantiveram estáveis da reunião de outubro para a de novembro no chamado cenário de referência, que pressupõe os juros estáveis em 9,5% ao ano e taxa de câmbio em R$ 2,30, e caiu no cenário de mercado, que leva em conta a cotação do dólar e os juros esperados pelos economistas do setor privado.

A visão do Copom sobre como a depreciação recente da taxa de câmbio irá afetar a inflação não se alterou, a despeito dos sinais recentes de arrefecimento da alta dos preços no atacado. O Copom volta a afirmar que a desvalorização cambial representa um realinhamento de preços relativos e que esse movimento representa pressão inflacionária em prazos mais curtos. Mas continua achando que, em prazos mais longos, a política de juros limita os efeitos secundários sobre a inflação.

O comitê ainda vê o “frágil” cenário externo como fator de contenção da demanda agregada da economia brasileira. Mas se revela mais otimista em relação à contribuição do setor externo para a economia do país, ao avaliar que “a demanda agregada, que inclui a demanda interna e a externa, tende a se apresentar relativamente robusta”. Na ata anterior, numa frase quase idêntica, o Copom fazia a mesma previsão em relação apenas à parte doméstica da demanda agregada.

O colegiado voltou a fazer referência aos sinais de retomada dos investimentos, entre outros fatores, por causa das concessões de serviços públicos e da ampliação da área de exploração de petróleo. Na lista de fatores que ajudarão os investimentos, o documento acrescenta “condições financeiras favoráveis”, que não estavam citadas na ata anterior, de outubro. Nesse trecho, a nova ata também veio diferente porque não estendeu a expressão “boas perspectivas” para a produção industrial. A ata de outubro previa “boas perspectivas para os investimentos e para a produção industrial”.

Sobre a política fiscal, a ata reitera a visão de que “criam-se condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade”.

Para o economista-chefe do UBS, Guilherme Loureiro, a ata amplia a chance de o ritmo de aperto monetário desacelerar em janeiro, mas não elimina a possibilidade de haver mais duas altas de 0,5 ponto percentual. Ele afirma que o BC adotou um tom “mais neutro” do que o esperado, possivelmente com o objetivo de manter as portas abertas para avaliar os próximos indicadores econômicos e, então, definir seus passos. “Mantenho meu cenário de mais duas altas da Selic de 0,5 ponto, mas vejo que os riscos são no sentido de o ciclo ser menor do que a gente tem na cabeça.”

Já na visão do economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal, a ata foi mais conservadora do que o esperado, deixando aberta a possibilidade de alta de 0,25 ponto ou repetição do meio ponto em janeiro e sem aceno claro sobre a intenção de encerrar o ciclo de aperto monetário. Segundo o especialista, o mercado esperava uma indicação mais forte de que o colegiado do Banco Central iria reduzir o ritmo de alta.

O economista-chefe da Western Union, Adauto Lima, afirma que o comunicado apresentado após a decisão da semana passada do Copom já tinha aberto o caminho para uma mudança de ritmo no ajuste da taxa de juros, e a ata divulgada ontem reforça essa percepção.

O BC adotou um tom menos incisivo que o esperado quanto à possibilidade de interromper ou amenizar o ciclo de aperto monetário no curto prazo, concorda o economista da Franklin Templeton Vagner Alves. Ele afirma ver o cenário central do BC de atividade doméstica mais intensa em 2014 e a constatação de que a inflação neste ano ficará acima do centro da meta como elementos que mantêm a continuidade do aperto monetário no radar. “O que me parece mais claro é que a ata sinaliza que o ritmo de alta da Selic vai diminuir de 0,5 ponto para 0,25 ponto”, diz Alves. “Talvez o BC possa subir o juro em pelo menos mais três reuniões, mas reduzindo o passo para 0,25 ponto.”

A ata reforçou a expectativa da equipe de economistas do HSBC Global Research de que o Copom pretende reduzir o ritmo de aperto monetário, promovendo uma alta de 0,25 ponto percentual da taxa básica (Selic) em janeiro, para 10,25% ao ano. Em relatório, o HSBC afirma que “embora a ata não elimine a possibilidade de altas posteriores de 0,25 ponto, projetamos que a elevação de janeiro será a última deste ciclo de aperto e que a taxa básica encerrará 2014 em 10,25% ao ano”.

Na visão do Banco Itaú, “a ata reforça o sinal de que o ciclo de alta está próximo do fim, ainda que o sinal não seja explicitamente indicado através de expressões que o Copom usualmente utiliza nestas ocasiões”. A equipe comandada pelo economista Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central, prevê uma alta de 0,25 ponto em janeiro, para 10,25% ao ano, “patamar em que deve se manter até pelo menos o final de 2014”.