Atividade tem recuperação em outubro

Depois de um setembro fraco, com queda expressiva nas vendas de automóveis e estimativa de recuo da produção industrial, a atividade econômica mostra uma recuperação moderada neste mês, segundo empresários e líderes de associações setoriais. Divulgada ontem, a prévia de outubro do índice de confiança da indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) também confirma essa melhora da atividade – subiu 1,3% em relação a setembro, na série livre de influências de sazonais (ler abaixo).

O presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, vê um outubro “um pouco melhor” para o setor do que setembro, mas não aposta em “grande crescimento” neste mês. As vendas em setembro ficaram em 341 mil toneladas, 10% inferiores a agosto. A média por dia útil, contudo, foi 8% superior.

Segundo Loureiro, os setores de veículos, autopeças e máquinas agrícolas têm feito encomendas mais expressivas. Já os pedidos de empresas ligadas à construção civil e de bens de capital estão mais fracos, um sinal pouco animador para o investimento. “O pior já ficou para trás, mas não vejo a perspectiva de um crescimento forte”, diz Loureiro, para quem que a indústria vive um ano sofrível. Ele, que já apostou em alta de 6% para a distribuição de aço neste ano, prevê hoje expansão de apenas 2%.

Um bom termômetro para as encomendas da indústria fora da cadeia automobilística, o setor de papelão ondulado aposta em resultados mais expressivos no fim do ano. O presidente da Associação Brasileira de Papelão Ondulado (ABPO), Ricardo Trombini, não viu a queda em setembro com preocupação, já que agosto foi um mês recorde, com expedição de 300,9 mil toneladas, e setembro teve quatro dias úteis a menos do que o mês anterior. Em setembro, as vendas domésticas recuaram 6% em relação a agosto – uma queda de 1,5% nas contas da LCA Consultores, na série com ajuste sazonal. Na média diária, as vendas avançaram 5%. “Já percebemos um ritmo melhor do nível de atividade.”

Os ramos industriais que mais demandam no momento são os de alimentos e bebidas e higiene e beleza, mas o presidente da ABPO diz que segmentos com incentivos do governo, como eletroeletrônicos, móveis e linha branca, mantêm seu perfil de consumo em nível que considera satisfatório. No começo do ano, a entidade previa aumento de 2,5% nas vendas em relação a 2011, percentual já atingido no acumulado de janeiro a setembro. Com a redução do IPI para alguns setores e encomendas mais fortes, Trombini acredita que esse avanço pode chegar a 3%.

O presidente da Indústria São Roberto, Roberto Nicolau Jeha, também relata um outubro melhor do que setembro. Empresa de papelão ondulado, a São Roberto registra boas encomendas dos setores de alimentos, bebidas e limpeza, muitas delas ligadas às festas de fim de ano. “Mas o ano está difícil”, diz Jeha, prevendo uma expansão de 1% a 2% para a companhia em 2012. Câmbio e juros em níveis mais adequados ajudam a economia, mas o crédito ainda não deslanchou e a infraestrutura continua muito ruim, afirma ele.

No setor químico, após um agosto forte, a expectativa de Fátima Ferreira, diretora de economia da associação do segmento (Abiquim), é que setembro tenha mantido o ritmo do mês anterior e outubro também mostre bom desempenho. Fátima afirma que o terceiro trimestre é o melhor período do ano para o setor químico, marcado pelas encomendas de fim de ano da indústria, mas avalia que uma conjuntura mais favorável também está por trás dos resultados mais robustos. “A partir de agosto, sentimos uma melhora do ambiente. Alguns clientes da nossa indústria que estão se beneficiando com a desoneração da folha de pagamento estão consumindo mais.” A economista também avalia que o câmbio de R$ 2 foi positivo para o setor. De janeiro a agosto, o volume importado no setor encolheu 5,2%, enquanto a produção cresceu 2,4%.

No segmento de materiais de construção, agosto pareceu indicar um quadro de retomada colocado em xeque por setembro, segundo Walter Cover, presidente da associação da indústria do setor (Abramat). Descontados os fatores sazonais, as vendas do setor encolheram 6,7% em setembro, após alta de 8% na medição anterior. Cover credita parte do desempenho ruim ao menor número de dias úteis de setembro e à greve dos bancos, que, de acordo com ele, diminuiu o volume de negócios. Ele afirma, contudo, que o comportamento do varejo – com peso de cerca de 50% nas vendas do segmento – continuou deixando a desejar, enquanto o setor de infraestrutura seguiu em ritmo lento e o de incorporações imobiliárias perdeu fôlego. “O crédito está melhorando, mas ainda há problemas.”

Para os meses finais do ano, a expectativa da Abramat é que as vendas registrem crescimento nas comparações mês a mês, puxadas pelo varejo, que pode ter aquecimento adicional devido ao destravamento do crédito pelos bancos públicos. Cover observa, porém, que os três meses finais não devem salvar o resultado de 2012, para o qual a associação espera crescimento de 3,4% “É um número baixo. No começo do ano, esperávamos algo na faixa de 4,5%.”

A Lupo é outra empresa que, depois de um setembro fraco, tem um desempenho melhor neste mês. O inverno mais quente que o usual e a falta de chuvas prejudicaram os resultados da empresa em setembro, quando o faturamento recuou 8% sobre o mesmo mês do ano passado, desempenho muito aquém da meta da empresa de 12% de crescimento. Valquírio Cabral Júnior, diretor-comercial da Lupo, acredita que setembro pode ter sido o pior mês do ano, período marcado por estoques mais altos que o planejado no varejo e consequente queda na produção. Outubro, no entanto, já dá sinais de recuperação: nos primeiros 18 dias do mês, o faturamento avançou 17% sobre igual período de 2011. “As lojas começaram a escoar a mercadoria em estoque e acreditamos que no último trimestre do ano, vamos crescer 10% em relação ao mesmo período do ano passado, salvando o ano.” Para ele, parte dessa projeção reflete a sazonalidade, mas também uma melhora da economia no fim do ano.

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), José Luiz Diaz Fernandez, diz que o nível de ociosidade das empresas associadas foi reduzido em cerca de 20% na passagem do segundo para o terceiro trimestre como reflexo de encomendas mais firmes do varejo para o fim do ano. Desde agosto, o setor conta com a desoneração da folha de pagamento. Segundo Fernandez, a medida está começando a refletir agora nos preços finais, aumentando o efeito do corte de impostos. Devido aos incentivos do governo e às condições mais favoráveis do crédito, ele acha que o setor, que cresceu 2,5% de janeiro a agosto, crescerá 4,5% no ano.