Autismo e o consumo de agrotóxicos

Luiz Carlos Demattê Filho*

País é líder mundial em defensivos agrícolas e adota livremente os grãos transgênicos

– O Brasil figura entre os maiores produtores agrícolas do mundo, sendo um grande mercado para agrotóxicos. É também o 2º maior produtor de grãos geneticamente modificados (OGM), atrás só dos EUA. A relação entre a liberação de transgênicos no país, em 2005, e o aumento de agrotóxicos contrapõe-se ao discurso de que os OGM, uma vez autorizados, reduziriam o uso de agroquímicos. Em contrapartida, o País tornou-se líder mundial em agrotóxicos e caracteriza-se por ser permissivo e tolerante com essas substâncias. Plantas transgênicas são desenvolvidas para resistir a herbicidas como o glifosato, o mais usado na agricultura convencional. Fabricantes afirmam que o produto não é tóxico, pois o homem não possui células vegetais. Parece correto, mas as bactérias que habitam o intestino têm os mesmos mecanismos das células vegetais, ou seja, podem ser afetadas. O resultado é semelhante ao que ocorre com uso de antibióticos. Aniquilam-se populações inteiras de microrganismos, alterando o equilíbrio necessário à nutrição e saúde, com graves consequências, como intoxicações em trabalhadores rurais e infertilidade que, cada vez mais, afetam jovens.

Outros males estão ligados de perto ao crescimento das áreas de transgênicos. Pesquisas relacionam a exposição ao glifosato com o aumento descomunal do autismo, assim como de outras doenças de origem neurológica, como Alzheimer e Parkinson. Dados dos EUA mostram que, em 2007, uma em cada 150 crianças era autista; em 2013, o número chegou a 1 a cada 50, levando à previsão de que, em 2025, 1 a cada 2 crianças sofram dessa condição.

A teoria que relaciona o autismo ao glifosato é igualmente complexa, mas vale a pena entendê-la. As pessoas pensam nas bactérias de maneira negativa, mas hoje sabemos que são imprescindíveis. Alguns aminoácidos são sintetizados no intestino pelas bactérias. É o caso da tirosina, triptofano e metionina. A tirosina é essencial para a síntese de dopaminas, adrenalina e melanina. O triptofano, na síntese da serotonina e da melatonina, fundamental ao sono. A metionina é um aminoácido essencial com ampla utilização no organismo. Serotonina, dopamina, melanina e melatonina são naturais e vitais à saúde do cérebro e emoções. Seu desequilíbrio relaciona-se à depressão, agressividade, hiperatividade, insônia, obesidade e às doenças neurológicas. Uma inflamação crônica do intestino, vinda de alteração microbiana, acaba levando à deficiência na produção de neurotransmissores vitais à saúde e à felicidade. Importante a relação entre uso de antibióticos na produção animal e herbicidas na produção de grãos. Ambos causam danos ao equilíbrio entre o homem e a natureza, neste caso, bactérias sem as quais não existiríamos. Cabe-nos buscar formas de produzir alimento de acordo com leis universais em métodos produtivos como a Agricultura Natural, de Mokiti Okada (1882-1955), que não usa substâncias nocivas e preserva o homem e o meio.

*é doutor pela Esalq-USP e diretor industrial da Korin Agropecuária