Baixa confiança do empresário deve impulsionar informalidade até 2018

Sem um horizonte previsível para o próximo ano, empresariado tende a postergar decisão de contratos formais para o segundo semestre. Sazonalidade do quarto trimestre será “prévia”

Número de pessoas empregadas sem carteira assinada e por conta própria cresceu por volta de 2% . Foto: USP Imagens

São Paulo – O emprego informal deve subir até a primeira metade de 2018, impulsionado pela sazonalidade do final do ano e pela baixa confiança dos empresários. A criação de vagas de 2017 só deve ter impactos positivos a partir de julho no indicador do mercado de trabalho.

De acordo com os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua – Trimestral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desocupação foi para 12,6% no período entre junho e agosto, valor 0,7 ponto percentual menor do que o visto no trimestre móvel anterior (13,3%).

O movimento, porém, foi observado apenas no número de pessoas empregadas sem carteira assinada e por conta própria, que cresceram 2,7% (de 10,5 milhões para 10,8 milhões) e 2,1% (de 22,3 milhões para 22,8 milhões), respectivamente, na mesma base de comparação.

De acordo com o professor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) André Salerno, a dificuldade em voltar para o mercado de trabalho e o alto número de desempregados ainda visto no País são os principais fatores a influenciar o aumento pelo lado da informalidade.

“O número é positivo porque, de alguma forma, precisamos começar, mas a complexidade da realocação no mercado, principalmente dos funcionários que possuiam cargos mais altos, acaba sendo uma barreira, refletindo na migração ao mercado informal e ao trabalho por conta própria”, explica o professor.

Da mesma forma, ao mesmo tempo que a sazonalidade de final do ano ajudará o comércio – o que influencia a demanda na indústria, por sua vez -, a falta de um cenário mais previsível ao longo de 2018 tem sido um impeditivo para o aumento da confiança do empresário em investir.

Segundo o professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), José Geraldo Portugal Júnior, o ambiente político doméstico acaba influenciando a percepção dos empreendedores e, mesmo com a possibilidade de transformar as vagas temporárias contratadas em empregos formais, a confiança abalada pode ser um entrave.

“O movimento sazonal do final de ano anima o comércio e o último trimestre deste ano pode ser mais dinâmico do que os últimos”, avalia o especialista e pondera que as perspectivas de crescimento estão melhorando e a tendência é que de 20% a 30% dos contratados temporários sejam fixos, mas ainda “é preciso cuidado quanto ao cenário político”.

“A troca do presidente em 2018, nas atuais condições, traz cenários adversos de desconhecimento que impactarão o mercado de trabalho”, afirma José Portugal, da PUC.

“Tudo depende do nível de confiança do empresariado. Se a economia continuar melhorando e dando os sinais que começamos a ver agora, podemos esperar resultados mais positivos a partir do segundo semestre, já que passada a sazonalidade, o empresário se sentirá mais motivado a fazer contratações por vias formais”, completa Salerno, da FAAP.

Endividamento

Da outra ponta, porém, os especialistas consultados pelo DCI ressaltam o alto endividamento visto para as empresas.

Segundo os últimos dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), a inadimplência das companhias subiu 3,42% no mês passado frente igual período de 2016.

Para Portugal, da PUC, o movimento dos negócios, em um primeiro momento, será o de contratar formalmente apenas o “núcleo que mantém a vida empresarial ativa”, ainda deixando na informalidade as “funções acessórias”.

“O núcleo corporativo estará trancado a sete chaves, mas os demais ainda devem demorar. O processo sempre é gradativo, principalmente porque o porte de trabalho futuro será gerado a partir da perspectiva de hoje. Se o cenário melhora, o emprego avança e vice-versa”, diz.

Já de acordo com Salerno, apesar do cuidado com o alto endividamento ainda visto entre pessoas jurídicas, o final deste ano será uma “prévia” aos empresários.

“Mas é importante lembrar que nosso pano de fundo ainda é de uma condição degradada, e apenas o tempo dirá como o empresário enxergará 2018 e quais decisões tomará”, conclui o professor da FAAP.

Isabela Bolzani