Policiais civis descobriram na tarde de anteontem uma oficina de costura clandestina, na Penha (zona leste), onde 16 estrangeiros, entre peruanos e bolivianos, eram mantidos em regime análogo ao de escravidão.
Um dos responsáveis pelo esquema, um boliviano de 28 anos, foi preso em flagrante.
Segundo as vítimas, era ele quem controlava o acesso à oficina, fazia os pagamentos, distribuía comida e mantinha a disciplina no local.
Para a polícia, no entanto, ele não agia sozinho.
Em fotos de redes sociais encontradas em seu celular, o acusado aparece com compatriotas, todos exibindo roupas de grife e correntes.
O caso começou a ser investigado após a fuga de duas vítimas, há uma semana. Elas cotaram à polícia que eram submetidas a uma jornada de trabalho de 16 horas diárias, com apenas uma refeição. O local onde dormiam não possuía ventilação e as condições de higiene eram péssimas.
Promessa
O valor prometido pelos acusados era de R$ 0,60 por roupa produzida. A uma média de 60 peças por dia, as vítimas ganhariam R$ 36 por dia, R$ 180 por semana (com folga no sábado e domingo) e R$ 720 por mês – esse valor é menor que o salário mínimo, de R$ 788.
As vítimas, que começaram a trabalhar no local há um mês, nunca receberam nada dos “empregadores”.
A delegada Kelly Cristina Sacchetto Cesar de Andrade diz que as vítimas saíram do Peru com o sonho do emprego fixo no Brasil. Ao chegar, eram informadas de que R$ 500, valor da passagem, seriam descontados do salário.
Folhetos usados pela quadrilha para atrair vítimas no Peru mostram imagens de vitrines de lojas de São Paulo e trazem testemunhos falsos de pessoas que dizem ter se dado bem no Brasil.
As vítimas seriam encaminhadas para o Departamento de Imigração da Polícia Federal.