Cerca de três milhões de pessoas vivem hoje, no Brasil, sob o regime de cooperativas. O levantamento é de Paul Singer, secretário de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego.
Ao todo, são 30 mil empreendimentos, que envolvem 1,6 da população do País. “É uma alternativa não capitalista ao desemprego”, diz ele.
Atualmente, a economia solidária é uma das bandeiras do Plano Brasil sem Miséria – principal programa de Dilma para erradicação da extrema pobreza. Segundo Singer, o orçamento da pasta nunca foi tão grande.
Se iniciativas como o microcrédito, moeda social, banco comunitário e produções em cooperativas são reconhecidas como projetos de sucesso, há pouco tempo elas passavam despercebidas por grande parte da população, inclusive autoridades.
Para Singer, isso acontece porque esse tipo de organização foi uma resposta ao desemprego massivo, consequência da hiperinflação e da crise econômica no país durante as décadas de 1980 e 1990. “Trabalhadores lutaram para ficar com a massa falida e montar empresas cooperadas”, explica.
Ele conta que em 1988, quando fazia parte da plataforma eleitoral da então candidata à prefeitura Luiza Erundina, em São Paulo, uma das propostas de campanha era organizar a massa de trabalhadores desempregados (na época, cerca de um milhão e meio de pessoas) em associações produtivas independentes.
Foi quando ficou sabendo que essa ideia não era nova. “Recebi cartas de pessoas falando que já estavam fazendo isso. O nome economia solidária foi adotado depois”, diz.
No mundo, diversas iniciativas pipocam. Butão, um país de 700 mil habitantes nas montanhas do Himalaia, na Ásia, será um dos principais nomes da próxima conferência internacional de economia solidária.
O país, que investe intensamente na ideia, deixará de contabilizar seu crescimento pelo PIB. Utilizará a conceito de FIB (Felicidade Interna Bruta), um indicador que mede não só o desenvolvimento econômico, mas a possibilidade de tornar a sociedade mais democrática e sustentável. “É uma fábrica de utopias, mas não é algo para quando tomarmos o poder, é para agora”, afirma o secretário.
No Brasil, são as mulheres que lideram o processo. “A pobreza é feminina e infantil”, diz. Comunidades quilombolas, indígenas e extrativistas também representam boa parte dos empreendimentos. Proporcionalmente, cidades pequenas contabilizam grande número de iniciativas.
Um dos princípios desse tipo de organização econômica é a ausência de hierarquia. Em sua análise, Singer retoma a herança militar na sociedade como uma das causas para sua hierarquização estrita (até em esferas supostamente mais livres, como universidades). “[A economia solidária] é uma réplica da economia brasileira sem patrão”, afirma.
O processo, explica ele, envolve desde trabalhadores que perderam seus empregos, comunidades tradicionais, até engenheiros, universitários, economistas e administradores.
Da Carta Capital