Por Li Congjun
Nos últimos dias, assisti a alguns dos grandes jogos da Copa do Mundo pela televisão. Embora esteja um pouco decepcionado com a ausência da seleção chinesa, fico contente em ver que diversos produtos e serviços no mundial vieram da China. Muitos bonecos do Fuleco foram produzidos na província de Zhejiang e uma empresa chinesa de energia solar presta serviço de energia ecológica nos estádios. Os internautas brincam que a seleção chinesa não veio para o Brasil, mas a China, sim.
A 6ª cúpula dos países do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Fortaleza reúne os líderes dessas nações para discutir soluções para os problemas encontrados no desenvolvimento econômico.
Atualmente, esses cinco países representam 20% do Produto Interno Bruto mundial e se tornaram as potências emergentes mais fortes em suas respectivas regiões, com uma vontade cada dia maior de participar dos assuntos internacionais.
Na onda da globalização, a troca igualitária e em tempo real de informações se torna cada dia mais importante. Todos podem ter seus próprios microfones. Os canais de expressão dos países emergentes estão mais variados, igualitários e simplificados.
Mais de 20 anos após o fim da Guerra Fria, a ordem mundial ainda não experimentou mudanças notáveis e as vozes entre os países são desiguais – as dos países em desenvolvimento geralmente são abafadas pelo tom alto dos desenvolvidos ocidentais. O que nós, nações em desenvolvimento, gostaríamos de dizer ao mundo parece ser muito difícil de ser ouvido.
Por outro lado, tudo está em transformação. Na onda da globalização, a troca igualitária e em tempo real de informações se torna cada dia mais importante. Todos podem ter seus próprios microfones. O rápido desenvolvimento da internet fixa e móvel faz com que os canais de expressão dos países emergentes sejam mais diversificados, igualitários e simplificados. As relações entre os meios de comunicação das economias em crescimento e os veículos fortes das potências ocidentais passaram a ter profundas mudanças. As vozes dos emergentes crescem gradualmente e as expressões das principais organizações jornalísticas da China, Rússia, Brasil, África do Sul e Índia recebem cada dia mais atenção na comunicação internacional.
Como representantes dos países emergentes, os membros do Brics consolidaram a base da cooperação econômica. No entanto, sua influência política sobre a comunidade internacional ainda é pequena, o que não corresponde às necessidades práticas e à vontade dos países emergentes de participar dos assuntos internacionais. Os países do Brics são reconhecidos pela excelente força econômica, mas têm pouca influência mundial em termos de soft power. Eles precisam aumentar a influência de sua imprensa pois ainda não desenvolveram uma capacidade sistemática de juntos expressar ao mundo sua vontade e força.
Os meios de comunicação dos países do Brics enfrentam circunstâncias quase iguais e têm aspirações semelhantes. Por isso, podem aprofundar a cooperação para desempenhar um maior papel na comunicação internacional e alcançar a meta de “nós falamos e o mundo ouve”. Com esse propósito, eu gostaria de apresentar uma proposta de quatro pontos.
Primeiro, aprofundar a cooperação entre os setores de imprensa dos países do Brics, empenhando-se em formar um consenso tácito e defendendo os interesses integrais dessas nações. Devemos reconhecer que os emergentes devem assumir responsabilidades, mas dentro dos respectivos níveis de desenvolvimento político e econômico. Para defender os interesses integrais dos países do Brics seus meios de comunicação devem ter um entendimento claro e se coordenar para expressar opiniões a partir das posições comuns entre si.
Segundo, intercambiar práticas e experiências e realizar coberturas objetivas, completas e com base em fatos, defendendo as imagens das respectivas nações. Os países do Brics têm sistemas diferentes mas conquistas semelhantes, além de questões próprias que estão surgindo. A crescente disparidade de renda, injustiça social e corrupção podem ser observadas nesses países, mas eles estão aperfeiçoando a situação com espírito de reforma e inovação. A imprensa desses países deve intensificar os intercâmbios sobre como noticiar os próprios países e ganhar respeito do mundo, buscando métodos efetivos para divulgar a imagem dos respectivos países de maneira objetiva e completa.
Terceiro, aproveitar a plataforma da Cúpula Mundial da Mídia para aumentar a confiança entre os países do Brics, melhorar o entendimento mútuo e eliminar qualquer mal-entendido. Desde 2009, com a proposta e participação da Agência de Notícias Xinhua e de outros meios de comunicação importantes, a Cúpula Mundial da Mídia, com tema “Cooperação, Enfrentamento, Ganhos Recíprocos, Desenvolvimento”, tem crescido de maneira contínua e se tornou um mecanismo bilateral de coordenação na imprensa global. As organizações de mídia dos países do Brics podem criar um mecanismo de intercâmbio permanente sob o marco dessa cúpula, discutindo as questões na cooperação e trocando ideias sobre as soluções pertinentes. Os meios de comunicação podem ajudar a aumentar a cooperação entre esses países ao orientar primeiramente a opinião das respectivas populações para com isso influenciar as opiniões públicas de outras nações em desenvolvimento.
Quarto, aproveitar projetos de cooperação específicos para enfrentar conjuntamente os desafios da nova mídia e nova tecnologia. A computação em nuvem, o Big Data e a internet estão revolucionando a maneira de propagar, processar e aplicar a tecnologia da informação, provocando uma nova onda de informatização. Isso conduz a profundos ajustes na distribuição midiática e notáveis mudanças nas condições da comunicação. A imprensa dos países do Brics deve aproveitar essa oportunidade para lançar diversos projetos de cooperação, em que podem aplicar as mais recentes tecnologias da informação e fazer coberturas inter-regionais, intermidiáticas e intersetoriais de grande escala sob os princípios de integração e fusão, estimulando a atualização e a transformação do modelo de produção e divulgação na prática, de modo a elevar o soft power da mídia.
Um especialista em relações internacionais me disse que desde a criação dos Brics, a opinião internacional nunca apoiou totalmente o bloco. Mas eu penso que a opinião pública finalmente aceitará os fatos. A cooperação entre os países do bloco se torna cada dia mais estreita, já tem cinco anos e pode durar muito mais. É como uma seleção da Copa do Mundo que chega com menos expectativa mas que pode chegar à final.
Um provérbio chinês diz que ouro verdadeiro não tem medo de fogo. Quanto mais os países do Brics se desenvolverem, maiores serão as vozes de dúvida e oposição fora deles. Como responsável por um órgão de imprensa chinês, espero sinceramente que os meios de comunicação dos países do Brics possam fazer melhor na comunicação internacional, aumentando constantemente os poderes de expressão, discurso e divulgação, e aprofundando o mecanismo do bloco para obter mais entendimento e apoio do mundo à cooperação e desenvolvimento desses cinco países.
Li Congjun é presidente da Agência de Notícias Xinhua