Cai o investimento siderúrgico no país

Levantamento feito pelo BNDES mostra que desembolso em 2011 para ampliar produção é metade do de 2010

Presidente da Vale, Murilo Ferreira, diz que país está ´atrasado´ e ´defasado´ no investimento em aço

AGNALDO BRITO 

DE SÃO PAULO

PAULO PEIXOTO DE BELO HORIZONTE

A siderurgia brasileira cortou investimentos na ampliação da produção de aço.

É o que revelou levantamento feito pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social) a pedido da Folha. O volume de investimento em 2011 pode ser inferior a metade do total aplicado em 2010.

Murilo Ferreira, presidente da Vale, disse em reunião com analistas de mercado na última terça-feira, em Belo Horizonte, que a siderurgia brasileira está “atrasada” e que perde dinheiro porque “não investe há muito tempo”. Ferreira disse ainda que o setor está “defasado”.

Ferreira comparou o país com a Coreia do Sul e a China, onde há dois grandes parques siderúrgicos. Disse que essas nações são muito mais “vibrantes” do que o Brasil no setor do aço.

“Digo essas palavras para balançar, para acordar. Quero ver a indústria siderúrgica brasileira tão vibrante quanto a coreana e a chinesa. Minha geração quer ver a indústria siderúrgica brasileira voando”, disse.

EM QUEDA

Segundo dados do BNDES, o desembolso de recursos para o setor entre janeiro a setembro deste ano foi de R$ 1,5 bilhão. Isso demonstra queda acentuada em relação ao níveis de empréstimo vistos até então.

Em 2010, o banco havia liberado R$ 3,8 bilhões para investimentos. No ano anterior, quando a crise internacional se agravou após a quebra do Lehman Brothers (ocorrida em 2008), o desembolso alcançou cifra de R$ 4,5 bilhões. Em 2008, o banco liberou R$ 3,2 bilhões.

A Folha apurou junto a fontes do banco que duas razões levaram à queda dos investimentos: as incertezas em relação ao desempenho da economia mundial (a produção de aço é sensível ao mercado siderúrgico internacional) e o fim de um ciclo de investimentos no país.

SURPRESA

O presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, disse que o meio siderúrgico ficou “perplexo” e “surpreso” com as críticas feitas pelo presidente da Vale, Murilo Ferreira. “A siderurgia brasileira é uma das mais modernas do mundo”, afirmou Lopes.

Ele disse que o setor fez grandes investimentos nos últimos anos. De 1994 a 2010, o setor aplicou US$ 34,1 bilhões, “sendo mais da metade na área de modernização do parque”.

Segundo Lopes, o setor no Brasil vai encerrar 2011 com capacidade instalada de 47 milhões de toneladas de aço bruto. A demanda interna ficará em 28 milhões de toneladas. A sobra de capacidade instalada, de 19 milhões de toneladas, é o volume que tem de ser exportado.

O problema, segundo ele, é que há excedentes de 400 milhões de toneladas de aço no mundo.