Centrais sindicais protestam no Rio contra ações antisindicais da Nissan nos EUA

Com cartazes com a inscrição em inglês “I am Chip Wells” (“Eu sou Chip Wells”), dirigentes sindicais da Força Sindical RJ, UGT e CSP Conlutas se concentraram durante toda a manhã de quarta-feira (22 de janeiro) em frente à concessionária da Nissan em Botafogo, zona sul da capital do estado, para protestar contra o racismo e ações de desrespeito à liberdade sindical promovidas pela direção da montadora no Mississippi (EUA).

Chip Wells, trabalhador exemplar da Nissan nos EUA, vem sendo seguido por seguranças da empresa dentro da fábrica desde que deu entrevistas à imprensa norte-americana, se mostrando favorável à criação de um Sindicato representativo dos trabalhadores da montadora multinacional no Mississippi.

Na quarta-feira (dia 22) Wells volta a dar entrevista na mídia norte-americana, denunciando os desmandos da Nissan em seu país e divulgando o ato conjunto das centrais brasileiras no Rio de Janeiro, solidárias à causa.

Fotos dele e de dezenas de funcionários da Nissan, que vêm sendo ameaçados e perseguidos por apoiarem a criação de uma representação sindical no Mississippi, foram expostas na calçada da concessionária de automóveis. Sindicalistas brasileiros panfletaram, na altura do nº 301 da Rua Real Grandeza, denunciando práticas que ferem não só os direitos trabalhistas, mas também os direitos humanos nos EUA e contrariam o Direito Fundamental de Organização Sindical, estabelecido na Resolução Nº 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Este foi o 5º protesto realizado no Brasil em apoio aos sindicalistas da UAW (United Auto Workers), o Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Montadoras de Veículos dos Estados Unidos. O brasileiro Rafael Messias Guerra, há 3 anos trabalhando naquele país e líder sindical da UAW, informou que o Mississippi, estado pobre e de maioria negra, é o único no mundo onde trabalhadores da Nissan não têm representação sindical. “O que estão fazendo nos EUA hoje é o que vão fazer aqui amanhã e não podemos, tanto lá como aqui, permitir que a empresa explore cada vez mais seus funcionários. É importantíssimo realizarmos essa ação solidária no Rio de Janeiro no dia em que Chip volta a dar entrevista numa emissora americana. Vocês não imaginam a repercussão que isso terá lá. Muito obrigado”, agradeceu Rafael Guerra, ao lado de outra dirigente sindical da UAW, a americana Virgínia Coughln.

O vice presidente da Força Sindical RJ, Marco Antônio Lagos de Vasconcellos, o Marquinho da Força, descreveu os atos arbitrários cometidos pela Nissan no Mississippi, como o uso de fralda geriátrica pelos trabalhadores, que não têm acesso liberado ao banheiro durante toda a jornada. “Direitos não só de trabalhadores, mas de seres humanos estão sendo suprimidos num país de 1º mundo, que se diz guardião e defensor internacional da liberdade. A Força Sindical considera um absurdo o que vem ocorrendo com os companheiros da Nissan no Mississippi”, afirmou Marquinho da Força.

Já o secretário geral da Força RJ, David de Souza, ressaltou a unidade das centrais sindicais no Rio de Janeiro. “Mais uma vez, estamos unidos, lutando pela garantia da liberdade sindical mundial”.

A Nissan vai investir R$ 2,6 bilhões na construção de uma nova fábrica em Resende, no Sul Fluminense, para o desenvolvimento, produção e lançamento de novos produtos. A previsão é que o parque industrial comece a operar já no primeiro semestre de 2014. A nova unidade vai gerar 2 mil novos postos de trabalho e terá capacidade para produzir até 200 mil unidades por ano, segundo informações da empresa.

Participaram ainda da manifestação o presidente da Federação dos Químicos do RJ, Isaac Wallace, o presidente nacional da UGT, Ricardo Patah, o presidente da UGT-RJ, Nilson Duarte, além de representantes do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil do Rio de Janeiro, Comerciários, Siderúrgicos, Metalúrgicos de São Gonçalo, Aeroviários, entre outros.

Íntegra da carta conjunta das centrais sindicais do RJ,
a ser encaminhada à Nissan no Japão e EUA

Afirmação pelas Centrais Sindicais do Estado do Rio de Janeiro em Solidariedade aos Trabalhadores da NISSAN do Mississippi, EUA.

Nós estamos aqui hoje para pedir que a Nissan pare de violar os direitos trabalhistas dos seus empregados que estão tentando formar um sindicato em Canton, Mississippi, EUA. Como líderes sindicais, nós sabemos da importância do Sindicato para o padrão de vida da classe trabalhadora e o bem estar das comunidades, Os trabalhadores do Mississippi não querem nada mais do que voz dentro da fábrica e, com isso, a oportunidade de fazer da Nissan uma empresa ainda melhor.

Nós pedimos especificamente que a Nissan pare de assediar um dos líderes de seus trabalhadores, Chip Wells. Chip trabalha na Nissan por vários anos, sem qualquer problema de disciplina. Mas, no seu primeiro turno de trabalho após aparecer na TV em rede nacional, falando como um trabalhador a favor da sindicalização na fábrica, ele começou a receber várias punições e castigos dos seus superiores – todos relatados ao seu desempenho no trabalho.

Após 5 punições infundadas (às quais nós acreditamos serem claramente uma retaliação por sua liderança nesta campanha sindical), ele não consegue mais suportar um ambiente de assédio constante e bullying que os supervisores da Nissan criaram, desde que sua história apareceu na TV.

Além disso, o que a Nissan tem feito com o Chip tem sido uma forma de dizer ao resto de seus empregados sobre o que acontece com quem apoia o sindicato, tornando-o um exemplo para os outros, que é muito conhecido por ser um defensor do sindicato dentro da fábrica.

No dia 12 de novembro de 2013, Chip disse a um representante da Nissan que ele não poderia trabalhar em tal ambiente hostil, criado por seus supervisores e pediu licença médica. Ele foi escoltado até a saída da fábrica por vários seguranças. O médico de Chip já o liberou para voltar ao trabalho, mas a Nissan não quer permitir que ele volte. Em vez disso, o chamaram para fazer um “interrogatório”.

Este é apenas um dos modelos que a Nissan utiliza para afastar os trabalhadores pró sindicato do movimento sindical. Ou então atormentam tanto suas vidas dentro da fábrica, que eles pedem demissão.

Nós estamos pedindo que as pessoas do Rio de Janeiro, e de todo o Brasil, juntem-se a nós dizendo à Nissan que isto não é um comportamento aceitável. No Brasil, a Nissan trabalha bem com os sindicatos e nós queremos pedir que o mesmo seja feito nos Estados Unidos. Nós pedimos que a Nissan coloque o Chip de volta ao seu trabalho e pare de ameaçá-lo e que pare de violar os direitos humanos de todos os trabalhadores do Mississippi.

Nós estamos com você, Chip Wells!!!

Nissan, respeite os direitos humanos!

Assinam Força Sindical RJ, UGT RJ, CSP Conlutas RJ, CUT-RJ.

Fonte: Assessoria de Imprensa Força Sindical RJ


Por Marcelo Peres
Secretaria de Imprensa e Comunicação
Força Sindical do Estado do RJ