Enquanto o governo argentino planeja rever o acordo automotivo com o Brasil para estimular a produção local de componentes, a indústria de autopeças no Brasil se preocupa com a concorrência do produto mexicano. O valor das compras de peças no México aumentou 87% em dois anos. Já em relação à Argentina, o setor continua a temer pela dificuldade de rastrear a origem dos itens que compõem as peças que o Brasil compra no país vizinho, que podem incluir produtos vindos de outras regiões como a Ásia.
O valor das exportações de peças mexicanas para o Brasil não é alto – US$ 537 milhões em 2012, o que equivale a menos da metade do que foi comprado da Argentina e a apenas 3,3% do valor em peças estrangeiras que entraram no país. Além disso, a balança comercial com o México é favorável ao Brasil, com saldo positivo de US$ 466 milhões em 2012. A queixa da indústria instalada no Brasil refere-se, porém, à crescente concorrência do produto mexicano.
As exportações de peças mexicanas para o Brasil aumentaram de US$ 287 milhões em 2010 para US$ 381 milhões em 2011 e US$ 537 milhões em 2012. No ano passado, os governos dos dois países reavaliaram o acordo automotivo e fixaram cotas para o intercâmbio de veículos. Mas o entendimento excluiu peças. O presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), Paulo Butori, defende o mesmo critério das cotas para peças.
Segundo o dirigente, a indústria instalada no Brasil leva desvantagem por dois lados. Primeiro, o câmbio tem favorecido, as importações. Além disso, ao contrário de 10 ou 15 anos atrás, quando o parque de componentes mexicano “era fraquinho”, o setor vive hoje os efeitos de investimentos, ” realizados com apoio de fabricantes de veículos americanos”.
“Além do Nafta, o México tem acordos de livre comércio com mais 62 países, o que pode facilitar a entrada de produtos de outras origens”, diz Butori, que acaba de assumir a presidência do Mercoparts, entidade que busca organizar a indústria de autopeças do Mercosul.
Rastrear a origem das peças que compõem os carros produzidos no Brasil é um dos pilares do Inovar-Auto, programa por meio do qual o governo brasileiro busca reduzir a entrada de produtos importados e, ao mesmo tempo, estimular a produção local. Mas falta ainda definir o regulamento que indicará o método de rastreabilidade da origem dos componentes. Será necessário um método eficaz o bastante para definir a origem dos itens que compõem também as peças produzidas na Argentina.
Embora seja o aumento da concorrência mexicana o motivo de preocupação da indústria, o maior peso nos sucessivos déficits na balança total do setor surge do intercâmbio com Estados Unidos, Japão, Alemanha e China. Os três primeiros países são origem de boa parte dos fabricantes de veículos e de grandes fabricantes de autopeças instalados no Brasil, o que explica a forte relação comercial.
O último resultado positivo na balança comercial brasileira de autopeças foi em 2006, com US$ 2 bilhões. A partir de então, os saldos têm sido negativos. O déficit saltou de US$ 4,60 bilhões em 2011 para US$ 5,79 bilhões no ano passado. A projeção para este ano é de US$ 6,60 bilhões também negativos. Os Estados Unidos são os maiores exportadores de componentes para o Brasil, com 11,56% do total de 2012. Japão e Alemanha vêm em seguida, com participações semelhantes. China foi a quarta maior, com 8,66% do total.
A Argentina está em quinto lugar. Foi responsável por 7,89% do que o Brasil trouxe em peças produzidas em outros países. Nesse caso, a balança é altamente favorável ao Brasil, com um superávit de US$ 2,498 bilhões em 2012. Os embarques para o mercado do país vizinho, principal destino das exportações de peças fabricadas no Brasil, somaram US$ 3,780 bilhões – 36,11% do total.