Compra de caças será definida após as eleições, afirma Jobim


SÃO PAULO – O ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse ontem esperar que a escolha da companhia que venderá os caças necessários para reaparelhar a Força Aérea Brasileira (FAB) seja definida em novembro. “Por enquanto, não há nada definido sobre essa chorumela [escolha da empresa vencedora]. O presidente [da república, Luiz Inácio Lula da Silva] quer resolver isso só após o segundo turno”, disse ele, durante seminário sobre o reaparelhamento das Forças Armadas, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Ele explicou que usou o termo “chorumela” porque a compra dos caças está demorando muito para ser resolvida. “Desde 1995, com o presidente Fernando Henrique Cardoso, essa questão está sendo discutida. Após o segundo turno [das eleições 2010], o presidente Lula quer sentar com o presidente eleito para definir qual será a escolha, isto porque o processo será feito durante o próximo governo. Espero que tudo isso seja definido em novembro”, disse.

Os caças a serem adquiridos fazem parte do projeto FX-2. Estão na disputa três projetos de fabricantes estrangeiras: Rafale da francesa Dassault, Gripen NG da sueca Saab, e F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing.

De acordo com o ministro, o principal critério para a definição será aquela que oferecer a transferência de tecnologia para o País. “Comprar avião é mais fácil. Queremos adquirir conhecimento, queremos aprender a construir um caça. É isso que é mais importante, seguido de outros critérios, como o preço”, ressaltou Jobim, ao acrescentar, sem dar muitos detalhes, que também terá que ter participação brasileira nesta troca.

Jobim explicou ainda que a escolha, que deve ser anunciada em novembro, pode não ser a definitiva. “O ministério mostrará qual é o projeto mais conveniente ao País. Após a escolha, os técnicos da aeronáutica devem avaliar a negociação e, em seguida o contrato financeiro da oferta será discutido no Ministério da Fazenda. Caso ocorra algum obstáculo, poderá ser aberta uma nova negociação”, destacou. “O processo da Marinha sobre os submarinos demorou um ano para ser efetivado”, exemplificou.

O comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, afirmou que apesar da indefinição sobre a compra dos caças, o cronograma para a produção está dentro dos prazos estabelecidos. Ele acredita que a primeira aeronave será entregue em 2016.

Com relação aos submarinos, Jobim afirmou, também ontem, que estes já estão sendo feitos em Itaguaí (Rio de Janeiro). O projeto também inclui a transferência de tecnologia e faz parte de um acordo entre a fabricante francesa DCNS, a brasileira Odebrecht e a estatal Nuclep, as quais produzirão cinco submarinos: quatro convencionais e um modelo à propulsão nuclear.

Ainda durante o seminário, o ministro da Defesa foi questionado sobre a produção do sistema Astro 2020 pela Avibras. De acordo com ele, deverá ocorrer uma reunião na próxima semana com o presidente Lula para discutir a provável ajuda técnica à companhia. A Avibras deve produzir armas lançadoras de míssil para o reaparelhamento das Forças Armadas.

Reaparelhamento

Nelson Jobim aproveitou a oportunidade oferecida pelo seminário sobre o reaparelhamento das Forças Armadas brasileiras para expor a situação militar do País para diversos empresários.

De acordo com o Ministério da Defesa, nos próximos dez anos, Exército, Marinha e Aeronáutica pretendem receber investimentos na ordem de US$ 27 bilhões para reforçar a força militar brasileira, por meio também de recursos da iniciativa privada. O projeto está previsto na Estratégia Nacional de Defesa e promete abrir um novo mercado para as indústrias nacionais.

Os principais setores de interesse das Forças Armadas são os seguintes: petroquímico; alimentício; têxtil e confecção; tintas e vernizes; material para combate a incêndio; segurança e salvamento; saúde; higiene e limpeza; expedientes e embalagens; cabos e amarras; ferramentas; material específico para mergulho; informática; defesa; elétrico; construção civil; ferroviário; hoteleiro; software; energético; siderúrgico e metalúrgico.

Para o ministro da Defesa, há diversos fatores que necessitam de proteção e de atenção da iniciativa privada, tais como o local onde será explorado o pré-sal no País, usinas hidroelétrica e termoelétrica, produção de gás natural, ferrovias, aeroportos, entre outros. No entanto, ele aponta gargalos nas Forças Armadas que precisam ser resolvidas, com destaque para a proteção da Amazônia. O foco da chamada Estratégia Nacional de Defesa é de, em 20 anos, reforçar brigadas, pelotões, postos, bases em todo o País, com maior atuação na região norte. “Queremos construir bases de submarinos próximos à exploração no pré-sal; ampliar capitânias, delegacias e agências, principalmente na Amazônia; aumentar os postos do Exército nas fronteiras, além de lançar um sistema de monitoramento via satélite”, exemplifica.

Fernanda Bompan