Por Sergio Lamucci e Francine De Lorenzo
de São Paulo
Depois da estagnação no terceiro trimestre, a economia dá sinais tímidos de reação no quarto, concentrados basicamente no consumo. A indústria continua a mostrar fraqueza, ainda sem ter concluído o processo de ajuste de estoques. Estimativas preliminares apontam alguma aceleração da atividade nos últimos três meses do ano, com projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) um pouco inferior a 0,5% sobre os três meses anteriores, feito o ajuste sazonal.
O economista Aurélio Bicalho, do Itaú Unibanco, destaca que há “sinais mistos” nos indicadores conhecidos até agora sobre a atividade econômica no quarto trimestre, com um cenário mais promissor para o varejo. Em novembro, o licenciamento de veículos aumentou 10,5% em relação a outubro, na série livre de influências sazonais calculada pelo Itaú Unibanco. Nas contas da LCA Consultores, a alta foi de 13,9%, considerando automóveis e comerciais leves.
“Isso deve ter levado a um melhor desempenho das vendas do varejo ampliado [que inclui veículos, autopeças e material de construção] em novembro”, diz Bicalho. No índice de atividade do comércio da Serasa Experian, as vendas de veículos, motos e peças avançaram no mês passado 4,5% sobre outubro, contribuindo para a alta de 1,5% do indicador geral.
A economista Silvia Matos, da Fundação Getulio Vargas (FGV), aposta numa recuperação do consumo com base nos números da Serasa. Segundo ela, o levantamento, reponderado pelos pesos da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), aponta crescimento de 1,8% em novembro nas vendas do varejo. “Ainda há riscos, mas estou otimista devido aos dados da Serasa.”
O assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, acredita que a reação do comércio em novembro se deveu em parte à expectativa de recebimento da primeira parcela do 13º salário. Para ele, tudo indica que o pior para a atividade ficou para trás, no terceiro trimestre. Em dezembro, as vendas de eletrodomésticos da linha branca podem ter alta mais forte, em função da desoneração tributária anunciada pelo governo na semana passada, mas nada muito expressivo, avalia Almeida. Segundo ele, o efeito da queda da Selic e do relaxamento das medidas de restrição ao crédito produzirão efeitos em 2012.
Outro sinal razoavelmente positivo veio do Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês) de Serviços do HSBC. Em novembro, ficou em 52,6 pontos, na série com ajuste sazonal, um pouco abaixo dos 53,6 pontos de outubro, mas ainda acima de 50, o que caracteriza expansão da atividade.
“Embora esteja pouco acima da linha que separa expansão da contração, continua um resultado positivo”, diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. Como Bicalho e Silvia, ele espera um crescimento do PIB no quarto trimestre de 0,4% em relação ao terceiro. “Embora fraco, mostra que a economia não está afundando. Esperamos que a economia acelere ao longo de 2012.”
Se as perspectivas para o consumo são razoáveis, o quadro para a indústria no quarto trimestre é bem menos positivo. Bicalho lembra que a produção industrial de outubro caiu 0,6% em relação a setembro, na série livre de influências sazonais. Em novembro, o índice do HSBC para a indústria ficou em 48,7 pontos, pelo sexto mês seguido abaixo de 50, o que aponta retração da atividade. A produção de veículos caiu 0,2% sobre outubro, segundo ajuste sazonal de Bicalho, ainda uma queda, embora bem menor que o tombo de 8,6% do mês anterior.
O fluxo de veículos pesados nas rodovias, por sua vez, cresceu 0,7% em novembro em relação a outubro, interrompendo uma sequência de três meses de queda na série dessazonalizada. Elaborado pela Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) e pela Tendências Consultoria, o dado integra o Índice ABCR, que será divulgado hoje. Segundo Juan Jensen, da Tendências, é um indicativo de que o pior momento da economia está ficando para trás.
“A princípio, podemos ter uma produção industrial marginalmente positiva para novembro. Não vai resolver o problema da indústria e não necessariamente os indicadores entrarão em trajetória de crescimento, mas é um sinal que aquela queda pode estar chegando ao fim”, diz Jensen. Bicalho também estima, de modo preliminar, uma alta da produção industrial em novembro. O consumo de energia elétrica, lembra ele, teve um pequeno aumento no mês.
Um ponto decisivo para o destino da indústria nos próximos meses são os estoques, avaliam Bicalho e Borges. Números da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da FGV indicam que eles seguem acima do desejado. Enquanto não forem ajustados, a produção tende a continuar patinando. O economista do Itaú Unibanco também teme que as exportações, que ajudaram o PIB no terceiro trimestre, possam sofrer no quarto, dado o agravamento da crise externa. (Colaborou Fabio Pupo)