Copom sobe juros para 11,25% ao ano na 1ª reunião do governo Dilma

Com isso, juros retornaram ao patamar vigente em março de 2009.
Essa também foi a estreia de Alexandre Tombini no comando do Copom.

Alexandro Martello Do G1, em Brasília

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, colegiado formado pela diretoria e presidente da autoridade monetária, subiu a taxa básica de juros de 10,75% para 11,25% ao ano na primeira reunião do governo Dilma Rousseff, que aconteceu nesta terça e quarta-feiras (18 e 19).

A taxa de juros estava em 10,75% ao ano desde julho de 2010. Ao subir os juros para 11,25% ao ano, o Copom fixou a taxa básica da economia brasileira no mesmo patamar vigente em março de 2009, o maior em cerca de dois anos.

A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 1 e 2 de março. A estimativa do mercado financeiro é de que os juros subam para 11,75% ao ano neste encontro e que avancem para 12,25% ao ano em abril – patamar no qual deverão fechar 2011.

Explicação
Ao fim do encontro do Copom, o BC divulgou a seguinte frase: “O Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 11,25% ao ano, sem viés, dando início a um processo de ajuste da taxa básica de juros, cujos efeitos, somados aos de ações macroprudenciais, contribuirão para que a inflação convirja para a trajetória de metas”.

Estreia de Tombini e confirmação de expectativas
Com a decisão, Alexandre Tombini, que assumiu o BC no começo deste ano, manteve a tradição de elevar os juros na sua primeira reunião no comando do Copom. A última vez que um presidente da instituição assumiu o cargo e não subiu os juros foi em 1997, na gestão de Gustavo Franco. Armínio Fraga e Henrique Meirelles, que entraram em 1999 e 2003, respectivamente, aumentaram os juros em sua estreia no Copom.

A definição do Copom também confirmou as expectativas de grande parte dos analistas do mercado financeiro. A percepção do mercado financeiro de que os juros iriam subir na reunião de janeiro do Copom se consolidou após o BC informar, no fim do ano passado, que o aumento de sua previsão de inflação para este ano sugeriria um ajuste (para cima) na taxa de juros no curto prazo como forma de “ancorar as expectativas” do mercado.

Metas de inflação
No Brasil, vigora o sistema de metas de inflação, pelo qual o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas. Para 2011 e 2012, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

O mercado financeiro acredita que o IPCA ficará em 5,42% neste ano, ou seja, bem acima da meta central determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O novo presidente do BC, Alexandre Tombini, porém, já avisou que está mirando no centro da meta de inflação de 2011. Para tentar conter as pressões inflacionárias, o BC atua sobre a demanda da economia, ou seja, esfriando o ritmo de consumo.

Pressões
A reunião do Copom deste mês aconteceu em meio à diferentes pressões sobre a inflação, umas para cima e outras para baixo. No fim do ano passado, o próprio Banco Central anunciou o aumento da alíquota do recolhimento compulsório, o que retirou R$ 61 bilhões da economia.

A medida, que pressiona para cima os juros bancários e equivale, segundo a economistas, a uma subida de juros (o que ajuda a controlar a inflação), ainda não teve seu efeito total sobre a economia. Na ocasião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou que o encarecimento do crédito seria oportuno.

“O aumento do compulsório ajuda um pouco a conter a demanda, porque ajuda a frear o crédito. Mas não substitui as medidas tradicionais de política monetária, que é a elevação da taxa de juros. A atividade está muito forte. A inflação tem subido, e não é só a alimentação. As expectativas estão elevadas”, disse Juan Jensen, sócio da Tendências Consultoria.

Na mesma linha, o governo federal tem anunciado que pretende fazer um corte maior de gastos públicos neste ano, em linha com as diretrizes da presidente Dilma Rousseff. Analistas estimam que o corte pode ficar entre R$ 35 bilhões e R$ 60 bilhões. Com menos gastos, a pressão sobre os preços é menor. Entretanto, como a medida, e seu valor, ainda não foram anunciados oficialmente, o Copom não deve ter levado seu impacto em consideração ainda.

Ao mesmo tempo, porém, a autoridade monetária anunciou, no início deste ano, o aumento do Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF) sobre posições vendidas dos bancos no mercado de câmbio, com vigência a partir de meados de 2011. A medida tem o potencial de evitar a queda do dólar e, com isso, pode gerar mais inflação.

Segundo Jensen, o dólar baixo ajuda a controlar a inflação. “Se não tem o câmbio para ajudar na inflação, isso implica um juros mais elevados, mas a medida [do BC] é gradual, e o governo tem continuado com as compras diárias [de dólar]. O câmbio pode deixar de ajudar, mas também não vai atrapalhar. Vai ficar mais ou menos nesse patamar”, disse ele, que prevê uma taxa de R$ 1,75 para o fim deste ano.

Juros reais
Com a subida da taxa básica da economia para 11,25% ao ano, o Brasil disparou na liderança isolada no ranking mundial de juros reais – que são calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos doze meses. Juros altos tendem a atrair capital para a economia brasileira e a pressionar para baixo o dólar.

De acordo com estudo do economista Jason Vieira, da corretora Cruzeiro do Sul, em parceria com Thiago Davino, analista de mercado da Weisul Agrícola, a taxa real de juros do Brasil avançou para 5,5% ao ano, mais do que o dobro do segundo colocado (Austrália, com 1,9% ao ano).