Por Virgínia Silveira | De São José dos Campos
A fabricante de helicópteros Helibras, controlada pela Airbus Helicopters, teve adesão de cerca de 50 trabalhadores ao seu programa de demissões incentivadas, iniciado há dois meses. A redução do número de funcionários é uma das medidas que a empresa tomou para se adequar ao corte de verbas do programa de desenvolvimento e nacionalização dos helicópteros EC-725 para as Forças Armadas, conhecido pela sigla HX-BR.
O caso da Helibras não é isolado e já provoca temor quanto à perda de pessoal especializado no setor de defesa. O presidente da Copac (Comissão Coordenadora Aeronave de Combate), responsável pelo programa de reequipamento da Força Aérea Brasileira (FAB), brigadeiro do ar José Augusto Crepaldi Affonso, disse que o programa HX-BR corre grande risco de perda de conhecimento e capacitação de mão de obra por conta dos cortes de verbas por parte do governo. “O risco mais importante do escalonamento dos contratos em vigor é a perda do capital social. Essa é a nossa principal preocupação.”
O diretor de estratégia internacional do grupo Airbus, Marwan Lahoud, disse que projeto de construção de um helicóptero 100% nacional (previsto para 2020) sofrerá atrasos, mas a empresa mantém os planos de uma parceria de longo prazo com o Brasil.
O presidente da Copac afirmou que os contratos com a Helibras estão sendo rediscutidos para se adequarem à nova realidade orçamentária. “O fim do contrato e das entregas será prorrogado de 2017 para 2019”, disse durante evento do setor, ha duas semanas.
O presidente da Helibras, Eduardo Marson, afirmou que pelo contrato original assinado com o governo brasileiro, o número de empregos gerados pelo programa dos helicópteros alcançaria este ano mil funcionários, mas com os cortes de verbas será de 850. Segundo o Valor apurou, em 2014 o governo liberou 90% do orçamento aprovado para o programa no início do ano.
Para a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a redução da força de trabalho no setor não está restrita à Helibras. Segundo o diretor adjunto do Departamento da Indústria de Defesa da entidade, Sérgio Vaquelli, o contingenciamento de recursos e o alto volume de restos a pagar, referentes a 2014, já ameaçam a sobrevivência de várias empresas.
“A informação que temos é que a indústria de defesa tem planos de reduzir entre 10% e 15% do efetivo”, diz Vaquelli. As companhias do setor geram cerca de 30 mil empregos diretos e 120 mil indiretos. O efeito sobre cada uma delas varia conforme o projeto no qual estão envolvidas, já que o nível de cortes é diferente em cada um deles
Incentivadas pela promulgação da Estratégia Nacional de Defesa (END), em 2008, e a promessa de uma política de investimentos em programas de reequipamento das Forças Armadas, grandes empreiteiras apostaram no mercado de defesa. “Hoje, porém, a lista das empresas que desistiram de atuar no segmento de defesa inclui os grupos OAS, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez “, diz Vaquelli.
O presidente da Akaer, César Silva, disse que a empresa só não está sendo afetada porque o grosso da sua receita vem da aviação comercial da Embraer e do Gripen da Saab, mas informou que está recebendo grande quantidade de currículos das empresas que já começaram a demitir.
Empresários do setor ouvidos pelo Valor disseram que existe a previsão de liberação de 18,9% do orçamento estimado para as Forças Armadas em 2015 ainda no mês de março. Até a publicação do orçamento de 2015 a execução das despesas ficou limitada a 1/18 da dotação prevista no projeto de Lei Orçamentária deste ano (PLOA).
Na Avibras, o presidente Sami Hassuani disse que está contratando uma vez que a carteira é fortemente exportadora e o mercado mundial está aquecido. Em janeiro, no entanto, a empresa enfrentou paralisações nas fábricas devido ao atraso nos salários. No dia 9, ela anunciou o encerramento da licença remunerada e dois dias depois informou que estaria efetuando os pagamentos dos atrasados.