LUIZ GUILHERME GERBELLI
A força de trabalho no Brasil vai crescer menos nesta década. Dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostram que a parcela da população brasileira que integra o mercado de trabalho vai crescer 12,97% no período. A alta do indicador é a menor desde a década de 80, período inicial do levantamento.
O ritmo mais baixo do crescimento da força de trabalho faz com que o País tenha um avanço mais parecido com o desempenho da média mundial. Na década atual, o mundo crescerá 11,27%. Nos anos 90, a diferença entre o crescimento do Brasil e o do mundo chegou a ser de quase 16 pontos porcentuais.
A redução do ritmo de crescimento está atrelada ao ajuste populacional que o Brasil atravessa, sobretudo com a redução da taxa de fecundidade. De acordo com os dados do Banco Mundial, em 2010, a taxa de fecundidade no Brasil foi de 1,9 – em 1980 era de 4,1; dez anos mais tarde, passou para 2,8.
“Como tem menos nascidos, menos gente entra no mercado”, afirma o professor André Portela, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em economia do trabalho.
O crescimento da força de trabalho no Brasil ainda é maior se comparado ao verificado nas economias mais maduras. A força de trabalho na União Europeia, por exemplo, terá um crescimento de 1,2% nesta década.
Os dados da projeção populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) reforçam a tese de baixo crescimento e envelhecimento da população. Em 2020, a porcentagem de idosos no Brasil terá um peso bem maior do que tinha em 1980. Em 2050, essa participação deverá se ampliar.
A redução do ritmo de crescimento da força de trabalho coloca em debate o desempenho da produtividade do trabalho do Brasil. “A economia vai depender cada vez mais da produtividade desses adultos para que eles sejam capazes de manter e aumentar a renda per capita da população”, diz Portela.
Para especialistas, a redução do ritmo da força de trabalho reafirma a necessidade de investimentos na melhora da produtividade e, sobretudo, na educação. “A gente sempre teve um gasto per capita grande com a população mais idosa. Mas os mais jovens foram crescendo com pouco preparo técnico”, afirma Regina Madalozzo, professora do Insper. “Nós temos de garantir que quem está nascendo agora, tenha uma boa educação e uma formação para que consigam sustentar o País”, diz Regina.
Baixa qualificação
Com o aquecimento do mercado de trabalho, a baixa qualificação dos profissionais ficou escancarada. Segundo Denise Delboni, professora de Relações Trabalhistas da Faculdade de Economia da FAAP, os jovens que entram no mercado estão tendo dificuldade para conseguir emprego por causa do pouco preparo. “Há poucos jovens qualificados, por isso muitos idosos continuam a trabalhar”, diz ela, para quem o crescimento da força de trabalho ainda dá “fôlego” para manter o desenvolvimento. “O aposentado segue trabalhando porque a aposentadoria é ruim e o filho dele não consegue entrar no mercado.”
Na avaliação de Portela, da FGV, a importação de mão de obra qualificada pode ser uma das alternativas para melhorar a competitividade do País. “Essas pessoas já são produtivas, ajudam o País, e podem treinar os novos trabalhadores.”
Participação feminina deve chegar a 45%
A participação das mulheres na força de trabalho do Brasil deve chegar a 45% ao fim desta década, de acordo com os dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) – em 1980, a presença das brasileiras era de 31,3%.
“Essa previsão de crescimento já era esperada. Atualmente, mais de 30% das famílias são chefiadas por mulheres”, diz Denise Delboni, professora de Relações Trabalhistas da Faculdade de Economia da Faap.
Denise lembra que as mulheres ainda ganham cerca de 20% menos do que os homens que estão no mercado de trabalho. “Elas se candidatam a trabalhos mais rotineiros e que pagam menos”, afirma. “Com salários mais baixos das mulheres, o rendimento das famílias acaba sendo menor”, diz Denise.
A entrada das mulheres no mercado de trabalho é, na avaliação dela, outro fator que contribuiu para a redução do aumento da força de trabalho.