Crescimento do consumo não veio acompanhado da produção

ANÁLISE

EDUARDO COSTA PINTO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A indústria brasileira está numa encruzilhada, pois o crescimento econômico dos últimos anos possibilitou que ela crescesse em termos de produção, mas não o suficiente para acompanhar a expansão da economia como um todo.
Recentemente, pós-crise internacional, inclusive, ela tem perdido posições na corrida devido ao aumento das importações, sobretudo as do dragão chinês, que se tornou a “fábrica do mundo”.
Economistas têm usado várias designações para o processo (desindustrialização, doença holandesa); outros defendem que isso não seria problema, pois a substituição da indústria por serviços seria uma tendência vista em países desenvolvidos.
Independentemente de tomar uma ou outra posição, faz-se necessário apresentar a indústria de transformação como ela é hoje.
Houve perda de participação desse setor no PIB (soma de bens e riquezas produzidas do país), de 17,1% no 3º trimestre de 2008, para 15,6% no 1º trimestre de 2011; a indústria importou mais do que exportou, o que fez seu deficit comercial pular de US$ 4 bilhões em 2009 para US$ 30,4 bilhões em 2010; e, de forma geral, importados ganharam mais participação no consumo interno.
Em suma, o crescimento do consumo no país não veio acompanhado do aumento da produção nacional, o que faz com que boa parte da renda brasileira se destine aos produtos importados.
Esse “vazamento” é compensado em parte pela forte entrada de dólares, causada principalmente pela busca de investidores estrangeiros por rentabilidade maior para seu dinheiro, já que as taxas de juros no Brasil estão entre as mais altas do mundo.
Além disso, há muito dinheiro chinês entrando no país, seja por meio de investimentos diretos ou por importação das commodities produzidas no Brasil.
Essa dinâmica da indústria é fruto da própria expansão da economia e, sobretudo, de sua perda de competitividade que pode ser explicada por questões tributárias, de infraestrutura, taxa de juros e câmbio.
Tudo isso é importante, mas o binômio juro-câmbio urge. Se já era muito difícil concorrer com as manufaturas chinesas, com o atual nível dos juros e do câmbio é praticamente impossível.

EDUARDO COSTA PINTO é pesquisador do Ipea e doutor em economia pela UFRJ.