A crise enfrentada pela indústria está chegando ao emprego e se não for revertida pode criar uma espiral negativa na economia, avaliou o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, ao apresentar ontem os “Indicadores Industriais” de maio.
“É muito difícil uma empresa manter seu quadro de funcionários se está há quatro anos sem crescer. Se começar a aumentar o desemprego, aí as expectativas vão cair ainda mais”, disse ele.
De acordo com a pesquisa, todos os indicadores, com exceção do faturamento, recuaram em maio ante junho deste ano no dado dessazonalizado. A entidade patronal ressaltou que esse é o terceiro mês consecutivo de queda em todos os indicadores, com exceção do faturamento.
O emprego caiu 0,3% em maio ante abril. No acumulado do ano, porém, ainda registra aumento de 1,1% sobre o mesmo período de 2013 e em relação a maio do ano passado o indicador avançou 0,6%. O mesmo ocorreu com o indicador das horas trabalhadas na produção, com um recuo de 0,4% em maio ante abril. As horas trabalhadas também caíram frente a maio de 2013, registrando uma retração de 2,4%. A massa salarial real, por sua vez, recuou 0,9% ante abril e cresceu 0,5% na comparação com maio de 2013. Já o rendimento médio real caiu 0,2% entre o quarto e o quinto mês deste ano e permaneceu estável na comparação de maio deste ano com maio de 2013.
A utilização da capacidade instalada da indústria brasileira caiu 0,2 ponto percentual entre abril e maio, com ajuste sazonal, chegando a 80,7%. O indicador era de 80,9% em abril. Na comparação com maio de 2013, quando o uso da capacidade foi de 82,5%, na série com ajuste sazonal, o nível de utilização da capacidade instalada da indústria recuou 1,8 ponto percentual. Sem o ajuste, o índice de maio ficou em 81%.
O faturamento real da indústria – que contrariou a tendência dos demais indicadores – subiu em maio ante abril 0,3%. Já na comparação com maio de 2013, esse indicador recuou 1,9%.
De acordo com Fonseca, o problema principal não é conjuntural, mas estrutural. Ou seja, juros altos e inflação no teto atrapalham, mas a principal questão é a falta de competitividade da indústria brasileira, causada, segundo ele, principalmente pela estagnação da produtividade nos últimos anos. “Você tem hoje um cenário por causa dessa falta de competitividade em que a confiança da indústria é muito baixa e isso se espalha por toda economia. Isso leva a um investimento menor”, explicou.
Apesar de as medidas pontuais anunciadas pelo governo nas últimas semanas – como a prorrogação do Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e do IPI reduzido para automóveis – ajudarem, Fonseca diz que é necessário reduzir o “custo Brasil” com ações como desoneração do investimento, diversificação de fontes de financiamento para a indústria e devolução do crédito à exportação mais rapidamente. “Não é uma agenda nova, mas é preciso acelerar essas medidas”, completou o gerente-executivo da CNI.
No fim deste mês, representantes da confederação entregarão 42 estudos com propostas e recomendações do setor para os candidatos à presidência da República. “Luz [no fim do túnel] sempre tem se a gente acertar a política. O quadro é desolador, mas já tivemos crises piores”, acrescentou Fonseca.
Segundo a CNI, a pesquisa “mostra que a indústria segue com dificuldade de intensificar seu ritmo de operação”. As indústrias de veículos automotores e metalurgia registraram as maiores quedas no faturamento em maio. No caso dos automóveis, a pesquisa da confederação mostrou que a queda no faturamento real foi de 15,3% na comparação com o mesmo mês do ano passado. As horas trabalhadas caíram 15,9% e o emprego 4,8%, enquanto a utilização da capacidade instalada foi 5,4% menor no mesmo período. Já o ramo de metalurgia registrou um recuo de 12,9% no faturamento nesse mesmo período, com redução de 3,7% no uso da capacidade instalada, de 4,2% no emprego e de 1,2% nas horas trabalhadas na produção.
De acordo com a pesquisa, houve retração também do faturamento nos segmentos de borracha e plástico (12,1%), couros e calçados (9,8%), móveis (8,7%), bebidas (8,4%), produtos de metal (7,8%) e máquinas e equipamentos (5%).
Por outro lado, a CNI apontou que houve crescimento no faturamento de vestuário (18,9%), químicos (10,2%), impressão e reprodução (6,8%), têxteis (5,5%) e celulose e papel (5,5%).