Educação: Na indústria, renda de trabalhador com diploma médio profissional é até 20% maior
Luciano Máximo
Para Naercio Menezes Filho, do Insper, integração de ensino médio regular com técnico “tem tudo para dar certo”
Em um momento em que o mercado de trabalho brasileiro continua aquecido e é forte a demanda por mão de obra com qualificação técnica, o resultado de uma pesquisa da Fundação Itaú Social mostra que os jovens com diploma do ensino médio profissionalizante têm salários até 12% maiores do que aqueles que cursaram o médio regular.
De acordo com o estudo “Avaliação Econômica do Ensino Médio Profissional”, a diferença de remuneração é ainda maior – de quase 20% – em favor dos trabalhadores que frequentaram algum curso técnico na área industrial, como mecânica, metalurgia, manutenção automotiva, petroquímica, entre outros. Os jovens que apostaram na educação profissional voltada aos setores agropecuário (agronomia, agronegócio), de gestão (contabilidade, administração) e de saúde (enfermaria, radiologia) recebem, respectivamente, um contracheque 13% e 9% mais gordo do que aqueles que optaram pelo ensino médio tradicional.
Baseado em microdados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) cruzados com informações dos censos escolares oficiais, a pesquisa também revela que dos 8,8 milhões de alunos no último nível do ensino básico nas escolas públicas e particulares do Brasil, pouco mais de 10% estão matriculados em algum curso de educação profissional. Um contingente de cerca de 1 milhão de estudantes está distribuído em cursos integrados de ensino médio tradicional e técnico (2%), concomitantes (35%) e subsequentes (60%). As escolas particulares respondem por metade das matrículas na educação profissional, enquanto as unidades estaduais ofertam 35% da vagas e as federais, 15%.
Na opinião de Lígia Vasconcellos, gerente de avaliação de projetos do grupo Itaú Unibanco, a constatação do ganho salarial maior para trabalhadores que cursaram o ensino médio profissionalizante carrega duas mensagens para os formuladores de políticas educacionais no país. “Embora o custo da educação técnica seja bem superior ao do ensino regular, o retorno em termos de salários vale o investimento. O outro recado é que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente por mão de obra de nível médio com bom nível de qualificação”, diz ela.
Para o professor do Insper – Instituto de Ensino e Pesquisa Naercio Menezes Filho, economista especializado em educação, o poder público deve concentrar esforços para ampliar a rede de escolas com ensino médio tradicional integrado ao profissionalizante. “É uma política que tem tudo para dar certo e vem sendo bastante discutida no país atualmente. O ensino regular tem uma cobertura muito ampla de disciplinas, mas uma parcela muito grande dos jovens têm pouco interesse nesse tipo de formação, preferem cursos que priorizem a capacitação para o mercado”, avalia Menezes Filho, para quem o chamado colegial deve ser preservado para pessoas com vocação acadêmica e interessadas em ingressar no ensino superior.
Apesar de contar com apenas seis escolas de segundo grau com ensino regular e profissional integrados, o governo do Rio de Janeiro trabalha com uma meta de unificar educação tradicional e técnica nos mais de 500 colégios da rede estadual em 20 anos. Parte dessa transformação ocorrerá em parceria com a iniciativa privada, conta o subsecretário de gestão do ensino da Secretaria de Educação, Antonio Vieira Neto.
Nesse modelo de parceria, as empresas “adotam” a escola, investindo na infraestrutura, e o Estado se encarrega do aspecto pedagógico. “Já temos experiência com a Oi para uma escola técnica focada em mídias digitais e telecomunicações, com o Pão de Açúcar para a formação de jovens para a indústria de alimentos e com a ThyssenKrupp para a área de gestão. Essas escolas têm processos seletivos muito disputados e suas notas no Ideb estão acima da média da rede estadual”, conta Vieira Neto.
Mas o processo de integração das escolas estaduais de ensino médio do Rio tem pela frente um obstáculo difícil de ser superado: o alto custo. De acordo com o planejamento em andamento no sistema educacional fluminense, juntar ensino médio regular e técnico numa única escola implica ampliar o horário de aula, contratar novos professores e modernizar totalmente a estrutura dos colégios. Atualmente, o gasto por aluno do governo estadual no ensino médio regular é de R$ 2,6 mil por ano. Já o custo estimado por aluno nas escolas com as duas opções de ensino integradas é quase o dobro, de aproximadamente R$ 5 mil.
A principal estratégia do governo estadual de São Paulo nessa área é a oferta de cursos técnicos a alunos já matriculados no ensino médio regular no contraturno das aulas, medida anunciada recentemente pela Secretaria de Educação. Os programas profissionalizantes serão descentralizados ao Centro Paula Souza, Instituto Federal de Ciência e Tecnologia e a instituições de ensino particulares. O Estado programou investimentos de cerca de R$ 60 milhões para criar 30 mil vagas a partir de outubro. A expectativa do governo é que até 2014, 450 mil jovens concluam o ensino médio com uma formação geral e técnica.
“Com esse modelo não foi preciso fazer um grande esforço orçamentário, mas o principal objetivo é estabelecer um projeto pedagógico unificado que contribua para melhorar a qualidade do ensino médio”, conclui Lucia Helena Lodi, assessora da coordenadoria de estudos e normas pedagógicas da Secretaria de Educação de São Paulo.