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Custo do trabalho cai pelo terceiro ano seguido

Fonte: Valor Econômico

A trajetória de queda do custo unitário do trabalho (CUT) da indústria, que começou há aproximadamente dois anos, deve continuar em 2018. A tendência é que um crescimento maior da produtividade do que do rendimento do trabalhador seja responsável pelo recuo do CUT. Economistas divergem, no entanto, sobre o quanto isso pode ajudar no curto prazo.

Estevão Taiar

“Até o fim de 2018 o cenário para o custo unitário com certeza segue confortável”, diz Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

O CUT subiu de maneira praticamente ininterrupta entre 2010 e o fim de 2015, crescendo 30% (de 100 pontos para 130, em uma escala criada pelo Ibre-FGV). O cálculo é feito dividindo a massa salarial real da indústria de transformação pela produção industrial, com base em dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Até a crise, os rendimentos cresciam acima da produtividade”, diz Castelar. Segundo ele, o mercado de trabalho aquecido no começo da década puxava os salários para cima, enquanto a produtividade permanecia estagnada, o que levou a fortes aumentos do CUT. “Quem mais se prejudicava era a indústria. Os serviços são menos expostos à competição externa, enquanto a agricultura e a mineração são competitivos por outras razões.”

Desde janeiro de 2016, essa alta do CUT vem sendo revertida, com queda de quase 15% (para 112 pontos). Esse recuo é decorrente principalmente do aumento da produtividade, que por sua vez pode ser explicado por uma combinação de fatores.

Durante a crise, por exemplo, algumas empresas optaram por manter “aquele trabalhador mais especializado” e mais produtivo, mesmo que não houvesse tanta demanda pelo trabalho dele, segundo Castelar. “Agora, com a produção subindo, esse funcionário volta a ser mais acionado.”

Segundo Renato da Fonseca, gerente-executivo de pesquisa e competitividade da CNI, houve também um efeito “comportamental” causado pela crise. “Com a recessão, as empresas e empregados se esforçam mais”, para evitar falência, recuperação judicial ou demissão. “As companhias ainda estão mais focadas em reduzir custos do que em contratar novos trabalhadores”, diz. “O emprego crescerá ao longo deste ano, mas com uma indústria melhor, mais produtiva, mais enxuta.”

A própria estagnação da produtividade durante quase uma década, segundo Castelar, também abre espaço para uma alta mais forte agora, em uma espécie de efeito de recomposição.

O rendimento do trabalho é outro fator que deve ajudar a manter o custo unitário em patamares confortáveis para a indústria em prazos maiores. Ao contrário do que aconteceu no último ciclo de crescimento do Brasil, desta vez a queda do desemprego deve ser mais lenta, pressionando também de “maneira relativamente lenta” os salários, de acordo com Castelar. Ele calcula que o rendimento do trabalho terá alta em termos reais de 0,7% ao ano até 2020.

A divergência aparece quando os economistas analisam os benefícios que a queda do CUT pode trazer para a indústria. Nos cálculos do Ibre-FGV, apesar de variações bruscas ao longo dos últimos dois anos, o CUT em dólares terminou 2016 e 2017 em patamar parecido com o do fim de 2015 (veja o gráfico). Para Fonseca, da CNI, isso anulou o recuo do CUT em reais. “Não podemos nos iludir, o que o câmbio traz, ele leva”, afirma.

Já Castelar defende que a queda ajuda a indústria ao aumentar a rentabilidade e estimular o investimento, independentemente do câmbio. Na realidade brasileira atual, segundo ele, esse efeito é o mais importante do recuo. Mas, para Fonseca, tão importante quanto a variação em dólares no Brasil é a variação no exterior.

“A queda no Brasil é positiva por si só, mas, se ela foi maior nos demais países, as empresas de fora poderão reduzir seus preços mais do que as nacionais”, diz, afirmando que um recuo maior em outros países prejudica a competição tanto no exterior quanto com os importados pelo Brasil. “É igual a uma corrida. Não adianta melhorarmos o nosso tempo, temos que melhorar mais do que o dos outros competidores.”

Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), concorda que o CUT “não é um obstáculo” à recuperação no curto prazo. Mas, sem uma expansão dos investimentos, é improvável que ele não volte a subir em prazos maiores, segundo ele.

“O que me preocupa é que há tempos o Brasil é uma economia de baixo investimento”, diz. Para ele, com a manutenção dos investimentos no atual patamar, o país terá cada vez menos capacidade de compensar eventuais altas de custos, como energéticas ou logísticas. “É próprio de uma economia de mercado arrefecer pressões de custo por meio de inovações. Investimento retira gargalo. Você gera uma produtividade maior para aquele trabalhador cujo custo continua em elevação.”

Castelar também destaca a importância de avanços consistentes da produtividade. “O câmbio tem impactos relevantes a curto prazo, mas a médio prazo o que faz a diferença é a produtividade e o salário real”, afirma. “A atual queda do custo unitário é bem-vinda, mas para ganharmos competitividade externa precisamos perseverar.”

“Esse é o desafio do Brasil, investir em tecnologia e capacitação”, diz Fonseca, da CNI. “Senão ficamos à mercê do câmbio.”