Valor Econômico
Por Stella Fontes | De São Paulo
Nogueira, diretor administrativo e financeiro, planeja ampliar o volume de fornecedores estrangeiros: “É preciso estar atento às oportunidades de negócio”
No ano em que concluirá um ciclo de investimentos de R$ 65 milhões, o grupo Delga, um dos principais fornecedores da área de estamparia automotiva do país, deve alcançar faturamento de R$ 900 milhões, ante os R$ 700 milhões registrados em 2011. Para os próximos anos, a meta é manter o ritmo de aportes de aproximadamente R$ 20 milhões ao ano, na esteira dos projetos de expansão anunciados pela indústria automobilística, embora alguns impedimentos, como inflação da mão de obra, ausência de benefícios fiscais e dificuldade de repasse de custos, ainda persistam.
Para garantir a execução do plano que se encerra em 2012, a Delga Indústria e Comércio, controlada por uma holding que representa a família Delgado, emitiu R$ 90 milhões em duas séries de debêntures no fim do ano passado, com vencimentos em novembro de 2014 e 2016. A operação, a primeira após o registro da empresa como sociedade anônima, teve por objetivo reforçar o capital de giro, além de financiar o projeto.
De acordo com o diretor administrativo e financeiro do grupo, Luiz Nogueira, cerca de 60% recursos previstos no plano estão sendo direcionados à fábrica de São Leopoldo (RS). A partir da unidade, o grupo se prepara para fornecer conjuntos soldados e estampados para a GM, dentro do projeto Ônix – que dá origem a uma nova geração de compactos da montadora.
Com esse contrato, a GM passa a ser o segundo maior cliente do grupo Delga, atrás da Volkswagen. Mercedes-Benz, Scania e MAN também aparecem na lista dos cinco maiores clientes da empresa, que fornece exclusivamente peças e componentes originais às montadoras – e não há planos de entrar no mercado de reposição. Neste momento, conta Nogueira, caminhões e ônibus levam uma pequena vantagem em termos de peso no faturamento ante o segmento de veículos leves. Com o novo fornecimento à GM, contudo, essa última categoria deve conquistar maior relevância. “O foco é o meio a meio”, reitera.
Os 40% restantes do plano de investimento, conta o executivo, foram direcionados às demais unidades da Delga instaladas em Diadema (SP), onde está a matriz; Ferraz de Vasconcelos (SP) e São Paulo (SP) – a antiga Máquinas Piratininga, fornecedora de peças para Mercedes e Scania, acaba de ser incorporada pela Delga Indústria e Comércio. O grupo é composto ainda por outra empresa, a Fobrasa, especializada na compra e venda de máquinas e equipamentos.
Em Ferraz de Vasconcelos, conta Nogueira, a Delga tem em funcionamento uma das maiores máquinas de estampado a quente da América Latina. Dali, saem peças para eixos de caminhões e ônibus e outros componentes para montadoras de veículos pesados e sistemistas (que fornecem conjuntos à indústria automobilística). Juntas, as operações voltadas ao mercado automotivo respondem por quase 95% dos negócios do grupo, que tem como carro-chefe peças estampadas e soldadas, como cárter, carroceria, entre outros.
Em paralelo à expansão de capacidade produtiva, a Delga levantou a bandeira da globalização. Não por meio de operação em outros países ou reforço nas exportações, que hoje se dão por via indireta, mas via fornecedores. No ano passado, 10% dos fornecedores da empresa estavam fora do país. Para este ano, a expectativa é a de que essa parcela se mantenha, com avanço nos próximos anos. “É preciso estar atento às oportunidades de negócio. Há empresas com capacidade ociosa no mercado externo e o ambiente está bastante competitivo”, diz.
No caso do aço, principal matéria-prima da Delga, os fornecedores são Usiminas e ArcelorMittal. Fundado em 1963, o grupo emprega mais de 2,3 mil funcionário e, de seu comando, já participa a segunda geração da família Delgado. A Delga Indústria e Comércio, por sua vez, se prepara para uma possível oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações no longo prazo. A expectativa é a de que a operação, caso se concretize, chegue ao mercado em até cinco anos.