Desemprego tem ligeira alta em 2009

Taxa fica em 8,1%; impacto da crise no mercado de trabalho é limitado pelo vigor do consumo doméstico

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O mercado de trabalho nas principais metrópoles do país não sucumbiu à crise em 2009, embora também não tenha ficado inume: a taxa de desemprego subiu pouco -de 7,9% em 2008 para 8,1%- e a renda avançou no mesmo ritmo de 2008. O número de empregos criados, porém, perdeu fôlego.

Em dezembro, a taxa de desemprego chegou a 6,8%, marca que iguala à de dezembro de 2008, a menor da série do IBGE, iniciada em 2002.

Nos sete primeiros anos do governo do presidente Lula, a taxa de desemprego média ficou em 9,8%. Para o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, só existem dados de 2002 (março a dezembro), quando a taxa foi de 11,7% -impulsionada pela crise pré-eleitoral. Em 2003, primeiro ano de Lula, a taxa foi de 12,3%.

Em 2009, apesar da expansão de só 0,7% no contingente total de pessoas ocupadas (menor do que o crescimento da população), a taxa de desemprego se manteve próxima à estabilidade por causa do maior desalento, segundo analistas.

Ou seja, sem perspectivas de arrumar um novo trabalho, pessoas de menor qualificação simplesmente deixaram de procurar uma vaga. Assim, não pressionaram a taxa de desemprego, que, para o IBGE, só considera as pessoas que procuram trabalho ativamente.

Indústria

O retrato do mercado de trabalho em 2009, extraído da Pesquisa Mensal de Emprego, completa-se com o fraco desempenho do emprego industrial, combalido pela crise.

“Não é possível dizer que a crise não teve impacto porque houve um enxugamento na ocupação, mas, ao mesmo tempo, o emprego melhorou de qualidade em 2009. Já em dezembro não se notavam mais sinais da crise”, disse Cimar Azeredo Pereira, gerente da pesquisa do IBGE.

Fábio Romão, economista da LCA, discorda, porém, que foram gerados postos de melhor qualidade. A única boa notícia, diz, foi o avanço do emprego formal. O economista afirma que a taxa de desemprego só não subiu com mais força por causa do crescimento do desalento -tendência que já se reverteu em dezembro.

Com menor procura por trabalho, o fraco crescimento do contingente de ocupados não alterou a tendência da taxa de desemprego. Na média mensal de 2009, o IBGE contou 1,9 milhão de desocupados -3,3% a mais do que em 2008.

Para Carlos Henrique Corseuil, do Ipea, o mercado de trabalho já vive uma “fase de retomada”, com a geração mais forte de postos de trabalho em dezembro. Mas, diz, a taxa de desemprego tende a subir nos primeiros meses do ano com uma maior procura por trabalho.

A indústria foi o setor que mais acusou o golpe da crise em 2009. Tanto que a ocupação cresceu menos ou caiu nas regiões industrializadas de São Paulo (0,6%), Porto Alegre (-0,8%), Belo Horizonte (1,1%) e Rio de Janeiro (0,2%). E avançou com mais força em Salvador (3,1%) e Recife (2,3%), mais voltadas aos serviços.

Renda

Sob impacto da inflação mais baixo e do reajuste real do salário mínimo, o rendimento médio do trabalhador cresceu 3,2% em 2009, no mesmo ritmo registrado em 2008.

Estimada em R$ 1.350, a renda enfim voltou aos níveis de 2002 e se recuperou integralmente da recessão que antecedeu as eleições de 2002 e se prolongou até o início de 2004. Em dezembro, a renda média caiu 0,9% ante novembro.

Segundo Cimar Azeredo Pereira, a saída do mercado de trabalho de trabalhadores menos qualificados e informais em decorrência da crise ajudou a puxar a renda média para cima. O aumento do emprego formal também favoreceu a expansão da renda.