Paulo de Tarso Lyra | De Brasília
A pressão do governo para que o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, convença o PDT a votar a favor do salário mínimo de R$ 545 ainda não surtiu efeito e o partido segue firme na disposição de votar o valor de R$ 560. Lupi reuniu-se na manhã de ontem com a presidente Dilma Rousseff. Dela ouviu que o momento é de unidade da base e que não gostaria de “surpresas” em seu primeiro desafio no plenário. Em seguida, ele participou de um encontro com a bancada do PDT na Câmara e parte da executiva. “Sou governo, mas fico constrangido de pedir a vocês que votem um mínimo de R$ 545 porque sei que a valorização do salário mínimo está no programa do PDT e na carta testamento de Getúlio [Vargas]”, afirmou, segundo relato dos presentes.
O governo aguarda a votação de hoje para decidir o que fazer com o ministro do Trabalho. A situação de Lupi perante Dilma é péssima, segundo fontes oficiais. Mas não se espera uma demissão sumária do ministro. A retaliação pode vir na nomeação para os cargos do segundo escalão. A não ser que entregue pelo menos metade dos votos dos 27 deputados do PDT a favor de um mínimo de R$ 545, Lupi permanece no emprego, mas perde autonomia para montar a equipe em uma Pasta que tem muitas vagas ainda em aberto.
O cerco a Lupi começou na noite de segunda-feira. Ele chegou do Rio de Janeiro no fim da tarde e seguiu direto para o Planalto para encontrar-se com o chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci. A pressa foi tanta que Lupi “despistou” um companheiro de partido que pretendia jantar com ele. “Eu tentei te avisar, mas o seu celular estava fora do ar”, justificou, por mensagem de texto no celular.
Prova da preocupação que a postura do ministro causa no governo foi dada na manhã de ontem. Dilma normalmente inicia sua agenda diária com despachos internos, por volta das 9h30, e depois emenda com as audiências reservadas. Ontem ela suspendeu os despachos internos para conversar diretamente com o ministro Lupi, às 9h. A presidente lembrou que ele é governo e não pode ficar se comportando como um integrante de uma central sindical.
A referência é ao deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), defensor de um salário mínimo de R$ 580. O Planalto ensaia há duas semanas o discurso de que Paulinho comporta-se mais como presidente da Força Sindical do que como parlamentar da base aliada do governo. “Ele não representa a totalidade do pensamento do PDT”, afirmou um ministro palaciano.
Este argumento ruiu após reunião de ontem da bancada do PDT. Um dos deputados presentes ao encontro afirmou ao líder na Câmara, Giovanni Queiroz (PA), que “esta votação pode ser o divisor de águas para o PDT”. Após a reunião, Queiroz contou que Lupi defendeu os R$ 545, mas não “colocou uma faca no pescoço do partido”. O líder disse que a bancada está em estado de alerta mas que, até o momento, mantém firme a disposição de aprovar um salário mínimo de R$ 560. “Quem sabe no último momento não convencemos o governo de que este é o valor ideal”? perguntou Queiroz.