Ivan Ventura
Estudo recente divulgado pela ONU revelou que a população das cidades superou o total de pessoas que vivem no campo. O dado é inédito na história da Humanidade e indica um crescimento que provoca arrepios em urbanistas e outros especialistas em planejamento urbano: até 2050, 75% da população mundial estarão concentrados em 27 megacidades com mais de 10 milhões de habitantes. São Paulo é uma delas.
No caso paulistano, tal concentração tem levado ao crescimento desordenado, a congestionamentos gigantescos, à escassez de áreas verdes e à falta de moradia, entre outros problemas. Foi com base nesse cenário (que pode piorar no futuro) que a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) debateu ontem o conceito de uma cidade sustentável capaz de prover melhores condições de vida.
Para falar sobre o assunto, o convidado foi o arquiteto, urbanista e professor do Mackenzie Carlos Leite. No início da exposição, ele fez um apanhado geral dos principais problemas das grandes cidades ao redor do mundo. Ao todo, esses centros representam 3% do território do planeta, mas onde vivem mais de 50% da população global. Mais: é nessa pequena porção de terra onde são consumidos 75% da energia disponível e onde se concentram 80% da emissão de poluentes.
Nos últimos anos, os governos despertaram para o crescimento não planejado das grandes cidades. Por isso, Leite propôs ontem discutir a situação de São Paulo a partir de seis grandes temas: mobilidade, moradia, questões ambientais, segurança, governança e oportunidade.
Na questão da mobilidade, por exemplo, São Paulo parece ter despertado para o tema, embora de modo tardio. Para ele, é preciso investir no transporte público e evitar a tendência preocupante em países do Oriente em favor do carros.
“Quanto à mobilidade, o Ocidente começa a rever as cidades construídas para os carros e já pensa no pedestre. Na China, ocorre o inverso por causa de sua economia em expansão. Por lá, o carro custa US$ 2 mil e as prefeituras projetam suas cidades para esses veículos”, explicou.
Sobre moradia, o urbanista exibiu modelos que devem ser evitados. Um deles é a construção daquilo que definiu como “beleza americana”. “São bairros residenciais localizados nos subúrbios. Neles moram, em média, 25 pessoas por hectare. É um modelo que não aprovo, pois afasta a pessoa do centro e do emprego”, disse.
Leite falou ainda sobre governança e a participação das entidades da sociedade civil na discussão de temas da cidade. “A Associação Comercial faz isso há anos e de maneira eficiente. Aqui, discutimos exaustivamente os temas de interesse da cidade”, disse o vice-presidente da ACSP e coordenador do Conselho de Política Urbana (CPU), Antonio Carlos Pela.
Participaram ainda do evento o presidente do Instituto de Engenharia, Aluizio de Barros Fagundes, além do presidente do Conselho Consultivo dos Corretores de Imóveis do Estado (SCIESP), Clóvis Cesar da Rocha. Em nome da ACSP, outro convidado foi Teruo Yatabe.