Em Porto Alegre, metalúrgicos podem entrar em greve


Sérgio Ruck Bueno | De Porto Alegre

Confrontados com argumentos que incluem a desaceleração da economia, a concorrência dos produtos chineses no mercado interno e as dificuldades em exportar para a Argentina, os metalúrgicos gaúchos com data-base em maio e junho estão sendo pressionados a aceitar ganhos salariais reais menores neste ano. Antes disso, em abril, os trabalhadores da General Motors em Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, ainda haviam conseguido um aumento maior do que em 2010.

Em Porto Alegre, a categoria tem data-base em primeiro de maio e pediu reajuste total de 14,27%, sendo 7,5% de aumento real equivalente à alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, mas as empresas ofereceram 8%, no total. Segundo o diretor do sindicato local, filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), Ademir Bueno, a proposta é insatisfatória e a entidade vai defender a decretação de estado de greve na assembleia marcada para amanhã.

“O discurso das empresas é que a economia está desaquecendo, mas o PIB não deve crescer menos do que 4% este ano”, reclama o sindicalista, que também é diretor da Federação dos Metalúrgicos da CUT no Estado. A oferta do sindicato patronal corresponde a aumento real de 1,6%, abaixo dos 2,37% obtidos em 2010 e dos 2,53% do ano anterior, logo depois do estouro da crise econômica mundial.

A federação negocia em conjunto com 23 sindicatos com data-base em maio. Todos têm as mesmas reivindicações e receberam a mesma oferta do sindicato estadual das indústrias do setor. Conforme Bueno, 80% dos que responderam pesquisa do sindicato dos trabalhadores de Porto Alegre com funcionários das maiores empresas da cidade são a favor da greve.

Em Canoas, na região metropolitana, a data-base também é em primeiro de maio, o pedido foi igual (14,27%) e o sindicato também é filiado à CUT, mas a negociação corre em separado. Segundo o presidente da entidade, Nelson da Silva, há duas semanas a assembleia dos trabalhadores já acatou a proposta patronal de 8,5%. O reajuste ainda foi parcelado, sendo 7% a partir de maio e 1,5% a partir de agosto, e embutiu aumento real de apenas 2,07%.

No ano passado, o ganho acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) obtido pelos metalúrgicos de Canoas havia sido de 2,47%. Conforme Silva, além da alegação de que a economia está crescendo menos, as empresas reclamaram da concorrência com produtos chineses e o segmento de máquinas agrícolas usou as dificuldades de exportação para a Argentina como argumento para segurar o índice.

Em Caxias do Sul, a data-base é em primeiro de junho e o sindicato local, filiado à Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), pediu reajuste de 14%, sendo 7,1% de aumento real. Segundo a diretora da entidade, Eremi Melo, porém, o sindicato patronal ofereceu 8% no total, com ganho real de apenas 1,46% (ante 2,65% em 2010). Segundo a sindicalista, as negociações ainda estão em andamento, e a greve seria o “último instrumento” de pressão, mas ela admitiu que se não houver avanço os trabalhadores poderão decidir pela paralisação.

A situação foi melhor em Gravataí, onde a data-base é em primeiro de abril. Depois de uma audiência no Tribunal Regional do Trabalho no dia 20 de abril, o sindicato local, filiado à Força Sindical, obteve reajuste total de 10,5%. O aumento real alcançou 3,95%, ante 2% em 2010. Já os funcionários dos fornecedores instalados no mesmo complexo da montadora (os sistemistas) ganharam 9,5%, com 3% além da inflação, acima do aumento real de 2% do ano anterior.