Emprego cresce mais na faixa acima dos 50 anos

Número de trabalhadores deste grupo no mercado sobe 56,1% em oito anos

Envelhecimento da população e falta de pessoal qualificado explicam fenômeno, afirmam especialistas

PEDRO SOARES DO RIO

Aposentada há 15 anos, Vanete Ferraz Parente, 70, trabalha numa lanchonete de fast food, no Rio, e não cogita parar tão cedo.

Mariângela Mundim, 52, gerente de Recursos Humanos da Petrobras, completou os 30 anos de contribuição à Previdência, mas não pensa em encerrar a carreira.

Elas ilustram um fenômeno que ganha força no mercado de trabalho das seis maiores regiões metropolitanas do país: o crescimento mais acelerado do emprego na faixa de 50 anos ou mais.

De 2003 ao primeiro trimestre de 2011, o número de pessoas ocupadas com mais de 50 anos aumentou 56,1%. O percentual supera o crescimento médio do total da população ocupada (19,8%).

Também é maior que o aumento do número de pessoas nessa faixa etária nas seis regiões, que foi de 41,6% (de 8,9 para 12,6 milhões).

Há oito anos, a faixa representava 16,7% da força de trabalho. O percentual subiu para 21,8% na média do primeiro trimestre de 2011, segundo levantamento da Folha sobre dados do IBGE.

Dos 22,2 milhões de pessoas ocupadas na média do primeiro trimestre de 2011 nas seis regiões metropolitanas, 4,8 milhões estavam no topo da pirâmide etária.

Para analistas, a mudança de perfil no mercado de trabalho é explicada pelo envelhecimento da população.

Outro fator é a falta de pessoas qualificadas em algumas áreas, que faz empresas reterem profissionais em idade de aposentadoria.

Pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Paulo Meyer Nascimento diz que o profissional de 30 a 40 anos já treinado está mais escasso e caro. Isso leva as empresas a procurar os mais velhos.

MUDANÇA

A gerente da Petrobras diz acreditar em uma mudança cultural das empresas, que passaram a valorizar mais a experiência dos trabalhadores para formar os mais jovens. Na empresa, 4.000 dos 58 mil empregados são aposentados -8% do total.

Vanete Parente, que se aposentou como secretária e hoje trabalha no Bob´s, diz que o ganho extra ajuda.

“Me sinto muito jovem e disposta. Não gosto de ficar em casa”, diz ela, que orienta clientes em uma loja na Tijuca (zona norte do Rio).

Especialistas também apontam a necessidade de complementar a renda familiar e as mudanças nas regras da Previdência, em especial o desconto no benefício para quem se aposenta mais jovem -o fator previdenciário, que surgiu em 1999.

Como as pessoas ficam economicamente ativas por mais tempo, Thaíz Marzola Zara, economista da Rosenberg & Associados, sugere que é hora de repensar as regras de aposentadoria.

Hoje, a norma fixa 30 anos de contribuição mínima para mulheres e 35 para homens.

Construção civil lidera contratações de mais velhos

Um dos setores em que o emprego entre os mais velhos cresceu com mais força foi o da construção civil, com alta acumulada de 62% de 2003 até o primeiro trimestre de 2011. O ramo é um dos que mais sofre com restrição de mão de obra e busca empregar os mais experientes.

Segundo Paulo Meyer Nascimento, pesquisador do Ipea, estudo recente do instituto mostra que cresceu significativamente a presença de engenheiros com mais de 50 anos na pirâmide etária da área, o que indica escassez de trabalhadores no setor.

Outro ramo com expansão significativa do emprego de pessoas nessa idade é o de serviços prestados às empresas. Nesse setor, o número de empregados acima de 50 anos subiu 71% entre 2003 e o primeiro trimestre de 2011.

O setor envolve os cargos de assessoria e consultoria, muitas vezes ocupados por pessoas aposentadas nas empresas. Um exemplo é o engenheiro Lourenço Righetti, 71. Ele trabalhou por 35 anos numa fábrica de válvulas elétricas para a indústria. Aposentou-se aos 65 anos, como exigiam as regras.

Passou a atuar como consultor na própria empresa por dois anos. Depois, foi diretor de outra empresa do ramo. Hoje, presta consultoria.

“Sempre há a necessidade de manter o padrão de renda, mas gosto do que faço.”