Emprego industrial já mostra sinais de enfraquecimento

Por Sergio Lamucci

O emprego na indústria dá sinais de enfraquecimento, especialmente nos setores que mais sofrem com a concorrência do produto importado e em que há mais dificuldades para exportar. De janeiro a junho, a ocupação total subiu 1,9% em relação ao mesmo período de 2010, mas há setores em que há queda do nível de emprego ou criação muito pequena de postos de trabalho, segundo números da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) do IBGE. No setor de vestuário, a ocupação no primeiro semestre caiu 3,1%, no de calçados e couro, 2%, e no de madeira, 7,8%. No setor têxtil, há uma alta de apenas 0,8%, depois do crescimento de 6,4% em 2010. No setor de produtos químicos, o aumento é mínimo, de 0,2% no primeiro semestre.

Termômetro do emprego formal no país, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra perda de fôlego das contratações na indústria, mas o saldo no acumulado do ano é positivo, mesmo em setores como têxtil, vestuário e calçados. A tendência, porém, também é de enfraquecimento.

Para o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, os números são preocupantes e revelam a perda de espaço de alguns setores da produção nacional para os produtos importados, num cenário de câmbio ultravalorizado. Ele diz que, hoje, as importações mais substituem do que complementam a fabricação doméstica.

Um caso típico é o setor têxtil, cuja produção caiu 12,5% no primeiro semestre, período em que o volume importado subiu 21,8%, de acordo com números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex). Almeida também observa que a dificuldade em exportar também atrapalha esses setores, afetando a produção, o que já começa a ter consequências sobre o emprego. De janeiro a junho, o volume exportado de produtos têxteis recuou 29,1%.

Situação semelhante ocorre no setor de madeira, que viu o nível de emprego encolher quase 8% no primeiro semestre. Nesse período, as importações cresceram 22,1%, enquanto as exportações recuaram 4%. Para Almeida, o câmbio valorizado, em combinação com a elevada carga tributária e os problemas de infraestrutura, tem afetado duramente a competitividade da indústria manufatureira.

O economista Edgard Pereira, sócio da Edgard Pereira & Associados (Edap), acredita que a perda de espaço para o importado tem mais importância para explicar o enfraquecimento do emprego na indústria do que o mau resultado das exportações. Ele prevê crescimento de 2,8% para a produção industrial, uma expansão na casa de 4% para o Produto Interno Bruto (PIB) e um avanço de 6,7% para o comércio varejista. “O varejo, um componente importante da demanda doméstica, cresce mais do que o PIB, que cresce mais do que a indústria. A diferença é suprida pelas importações”, afirma ele, também professor da Unicamp.

Para Pereira, a própria desaceleração da economia também contribui para o menor dinamismo do emprego na indústria. A demanda doméstica ainda cresce a um ritmo razoável, mas inferior ao do ano passado. As vendas no varejo, por exemplo, tiveram crescimento superior a dois dígitos em 2010, e agora terão alta mais modesta.

Almeida e Pereira acreditam que o emprego total na indústria, que aumentou 1,9% no primeiro semestre, deverá fechar o ano no zero a zero. Em 2010, houve expansão de 3,4%. A Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV) de julho mostrou um quadro desanimador para o segmento, com um recuo expressivo da fatia de empresas que pretendem fazer novas contratações nos próximos três meses. Em junho, 30,2% das companhias planejavam aumentar o número de funcionários, percentual que caiu para 23,7% em julho, o menor desde agosto de 2009 – a parcela das que pretendem demitir caiu de 11,3% para 9,9% na mesma comparação.

Há segmentos da indústria que ainda mostram um crescimento expressivo do nível de emprego, como o de meios de transporte (que engloba as montadoras). No primeiro semestre, a ocupação cresceu quase 8% – em 2010, houve alta de 5,9%. Apesar do forte aumento das importações, é um segmento em que a produção doméstica ainda vai bem e consegue abastecer boa parte do consumo interno. A fabricação de veículos automotores cresceu 6,2%, mesmo com aumento de 18,8% das importações. As exportações, por sua vez, subiram 9,6%.

No Caged, a história é um pouco diferente. De janeiro a julho, todos os setores da indústria ainda registram saldo positivo entre contratados e demitidos. No total da indústria, foram criados 288 mil postos de trabalho de janeiro a julho, 37% abaixo do registrado em igual período de 2010. Fabio Romão, da LCA Consultores, nota que o saldo de emprego é positivo, mas mostra perda de força. Os setores têxtil e vestuário, que aparecem agregados no Caged, criaram 15 mil postos de emprego formais de janeiro a julho, 73,8% a menos que no mesmo intervalo de 2010. Em julho, o saldo líquido nos dois segmentos foi positivo em apenas 334 vagas – em junho, tinha havido queda de 296 postos de trabalho.

O setor de calçados, por sua vez, gerou 18,3 mil empregos formais de janeiro a julho, 56,7% a menos que em igual intervalo de 2010. Em maio e junho, as demissões superaram as contratações. Na soma dos dois meses, houve perda de 5,1 mil vagas – em julho, porém, houve aumento de 3,7 mil empregos.

Para Romão, uma possível explicação para as diferenças entre os números d

Caged e da Pimes, do IBGE, é que o primeiro registra apenas a evolução do emprego formal, enquanto o segundo também retrata o que se passa no mercado informal. Segundo ele, embora o grau de formalização do emprego na indústria seja elevado, esse ponto pode levar a alguma diferença no resultado final.

Romão diz ainda não ver contradição entre os números do Caged e os do IBGE. Os dois mostram uma piora do emprego industrial, que se deve, para ele, à concorrência do importado e à própria queda da demanda. Almeida faz uma avaliação parecida. Os resultados são um pouco diferentes, mas retratam a mesma tendência.