MARIANA CARNEIRO e ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO
Número de empregados aumenta mas gera menos riqueza
A expansão do emprego sustentada pela contratação de mão de obra pouco qualificada nos últimos anos é uma das causas do baixo crescimento da economia.
Levantamento feito pela Folha nas bases de dados do Ministério do Trabalho revelou que dez profissões de baixa formação educacional foram responsáveis por metade das vagas geradas no mercado formal de trabalho entre 2007 e 2013.
Essa tendência contribuiu para a queda da chamada produtividade do trabalho – medida de eficiência da economia- nos últimos anos.
A explicação de economistas é que a população empregada aumentou, o que é positivo. Porém esses trabalhadores estão atuando em atividades menos sofisticadas e, por isso, que geram menos riqueza e o PIB (Produto Interno Bruto) cresce menos.
Sob os três anos fechados da gestão de Dilma (2011 a 2013), a produtividade recuou de um crescimento médio de 2% ao ano, dos primeiros três anos do segundo mandato de Lula (2007 a 2009), para 1,7% ao ano.
Como resultado, o crescimento da economia encolheu, neste período, de uma média de 3,6% para 2%. “Os mais produtivos já foram contratados e, nos últimos anos, foram contratadas pessoas com uma qualificação pior”, diz Fernando de Holanda Barbosa Filho.
“Isso ajuda a explicar por que temos desemprego baixo (em torno de 5%) ao mesmo tempo em que crescemos pouco: a geração de empregos ocorreu com pessoas e em áreas menos produtivas.”
Com isso, a economia entrou em um ciclo não virtuoso, que travou o crescimento.
E os trabalhadores, mesmo gerando menos riqueza, ficaram mais caros, o que pressiona os custos das empresas e retira sua capacidade de competir com empresas estrangeiras aqui e no exterior.
MAIS CARO
Segundo cálculo do economista Naercio Menezes, professor do Insper, os salários dos trabalhadores com formação mais baixa (menos de quatro anos de estudo) subiram oito vezes mais que o dos mais qualificados (com 17 a 18 anos), entre 2001 e 2012.
No governo, essa tendência já foi identificada. Segundo Rodolfo Torelly, diretor do departamento de emprego e salário do Ministério do Trabalho, os últimos anos foram marcados pelo avanço da formalização no Brasil, com a inclusão de trabalhadores dos estratos mais pobres e menos qualificados.
“Isso explica parte do forte aumento de geração de vagas menos qualificadas”, afirma. “A tendência agora é criar empregos mais nobres.”
Há o risco, porém, de o próximo capítulo dessa história ser diferente, pois com o baixo crescimento da economia cessa a geração de empregos, até das menos qualificadas.
No primeiro semestre deste ano, a geração de novas vagas caiu à metade. Até setores mais dinâmicos, como construção civil e comércio, perderam fôlego neste ano no primeiro semestre deste ano.
“É um processo que se esgota se não for acompanhado por uma geração substancial de vagas também para profissionais mais qualificados, que aumentem a produtividade. Sem isso, o crescimento estanca”, diz Menezes.
Os trabalhadores com posição mais frágil em um processo de reversão são exatamente os menos produtivos.
“Os que acharam que a vida ia ser para sempre uma festa agora tendem a ficar sem emprego. Meu conselho é: façam como o time da Alemanha, se preparem, se especializem”, diz Antonio Setin, presidente da construtora Setin.
QUALIFICAÇÃO
Rafael Lucchesi, diretor-geral do Senai, observa que também para as empresas é necessário que os trabalhadores se qualifiquem.
“Para se manter competitivas, as empresas estão se modernizando, o que muda os requisitos de mão de obra. Processos mais complexos demandam profissionais mais preparados”.
Para sair da armadilha, economistas e empresários afirmam que é necessário melhorar a educação. Nos últimos anos, a escolaridade até aumentou, mas a avaliação é que os trabalhadores ainda chegam ao mercado pouco preparados.