Emprego temporário vira ´salvação´ para pagar contas

O emprego temporário de fim de ano virou uma espécie de “tábua de salvação” para os endividados liquidarem as pendências com cartão de crédito e mensalidades escolares.

Só que neste ano, com o aperto no orçamento familiar por causa do avanço da inflação, o quadro piorou: os candidatos a uma vaga temporária contam com essa renda extra para quitar dívidas de despesas básicas de água, luz, aluguel, gastos com a manutenção do veículo, além de impostos (IPTU e IPVA).

Isso é o que revela um pesquisa nacional feita pelo portal de emprego Vagas, que consultou entre os dias 9 e 15 deste mês cerca mil pessoas que estavam à procura de uma vaga para um cargo operacional (auxiliar de escritório, zelador, manicure, encarregado de limpeza, segurança, por exemplo).

De acordo com a pesquisa, 21% dos entrevistados pretendem obter renda extra para quitar dívidas. Deste grupo que pretende usar o dinheiro para pagar dívidas, 28% dos entrevistados planejam regularizar as contas de água, luz, aluguel e imposto (IPTU). No ano passado, apenas 4% dos candidatos a um emprego temporário, que planejavam quitar dívidas, informaram que as pendências se referiam a esse tipo de despesa básica.

Os resultados da pesquisa se repetem quando o destino da renda extra é cobrir despesas com o carro, como seguro, manutenção e imposto (IPVA), exceto a prestação do financiamento. Na pesquisa deste ano, 20% dos entrevistados informaram que usariam a renda do trabalho temporário para pagar despesas com o carro, em comparação a 1% no ano passado.

“Esses resultados revelam o maior endividamento do consumidor e o menor poder de compra de sua renda, que foi corroída pela inflação”, observa Rafael Urbano, responsável pela pesquisa. Ele destaca que as dívidas com cartão de crédito e estudos continuam neste ano na liderança e vice-liderança, respectivamente, da lista de dívidas a serem pagas com a renda do emprego temporário, mas com porcentuais menores do que no ano passado.

Outro resultado que chama a atenção é que quase a metade (48%) dos entrevistados informou que a dívida em atraso varia entre R$ 1 mil e R$ 3 mil. No ano passado, 39% dos entrevistados tinham esses valores pendentes.

Camila Archanjo Amarantes de Campos Arruda, de 25 anos, casada e com uma filha, faz parte da população que está à procura de um emprego temporário para pagar despesas básicas. “Tenho R$ 1,5 mil de dívidas em atraso, entre contas de telefone, internet, luz e mensalidade de faculdade”, diz ela. Faz quatro meses que ela está desempregada, depois de trabalhar por vários anos no setor de telemarketing. “Já mandei uns 300 currículos, 50 deles para empregos temporários. Achar emprego hoje está mais difícil do que no passado, ninguém chama”, diz ela, frisando que procura uma vaga temporária ou fixa.

Camila não está sozinha à espera de recolocação no mercado de trabalho. Faz dois meses que seu marido, que trabalhava numa transportadora, foi demitido. O motivo da demissão foi redução de custos, já que o movimento da empresa caiu. O casal adotou uma estratégia para enfrentar os tempos bicudos: só não atrasam o pagamento do aluguel e da escola da filha.

Avanço

Neste ano, 67% dos consultados informaram que estão à procura de uma vaga temporária, com avanço de sete pontos porcentuais em relação à pesquisa do ano passado (60%). O resultado deste ano retoma praticamente o patamar de 2012, quando 66% dos entrevistados pleiteavam uma vaga temporária.

Dos interessados numa vaga temporária, aumentou neste ano a fatia daqueles que nunca tinham buscado um emprego desse tipo anteriormente. No ano passado, 65% dos entrevistados nunca tinham realizado um trabalho temporário e, neste ano, 72% estão nessa condição. “Houve um pé no freio na economia no último trimestre e as pessoas endividadas resolveram procurar outras oportunidades para obter renda extra”, diz Urbano, justificando o avanço da procura por emprego temporário.

Segundo o coordenador da pesquisa, um quarto daqueles que procuram um emprego temporário buscam uma primeira oportunidade de emprego. Segundo ele, esse resultado é expressivo, mas, como essa questão foi incluída pela primeira vez na pesquisa, não há dados disponíveis para comparações. O salário médio pretendido pelos temporários é de R$ 1.084. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.