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Encimesp: palestras mostram os fatores de doença no trabalho

No segundo dia do 14º Encimesp, que acontece no Centro de Lazer da Família Metalúrgica, em Praia Grande, os cipeiros e cipeiras ouviram duas palestras, uma sobre o “O trabalho como determinante no processo saúde-doença”, com a socióloga Ana Claudia Moreira Cardoso, e a outra sobre ”Cláusulas e Reivindicações de Greves Sobre Saúde do Trabalhador”, com a socióloga Luciana Morgado.


Ana Claudia Moreira Cardoso

Trabalho como determinante no processo saúde doença

O objetivo da primeira palestra foi analisar como as condições organizacionais e físicas do trabalho, as situações e as relações de trabalho e as formas de gestão determinam e contribuem, ao longo do tempo, para construir, manter ou prejudicar a saúde dos trabalhadores.

Ana Claudia lançou uma pergunta aos cipeiros: O que entendemos por saúde? Ou pelo processo saúde-doença? Eles se reuniram em grupos e apresentaram respostas variadas,  apontando a questão do assédio moral, intensidade do trabalho, pressão como fatores geradores do adoecimento, citaram a importância do estado físico, psíquico, emocional, entre outras.

Segundo Ana Cláudia, há um discurso que diz que o trabalhador tem que se adequar ao trabalho, “mas tem que ser o contrário. Estudos hoje mostram que o trabalhador pode ser cometido de Ler/Dort sem nunca ter feito esforço repetitivo, mas a pressão psicológica pode levar à doença”, afirmou, acrescentando que não se pode separar o físico, o mental e o psicológico.

Segundo ela, a saúde ou doença é o resultado entre o indivíduo e o meio ambiente no qual ele está inserido. “A saúde expressa o equilíbrio da relação entre o ser humano e o meio que ele vive. A doença expressa o desequilíbrio dessa relação”.

A apresentação relacionou diversos fatores que contribuem para o adoecimento no trabalho: intensidade do trabalho, metas inatingíveis, pressão, competição, assédio, ritmo intenso, jornadas longas, redução do tempo de descanso etc.

“A gestão por metas e objetivos tem contribuído negativamente para a saúde do trabalhador. É preciso conhecer as diversas dimensões do trabalho e do emprego. Ganhar mal tem impacto negativo na saúde, ter longas jornadas, sentir-se seguro no trabalho (medo). Quando a gente olha o trabalho, não olha só a máquina, o produto, mas um conjunto de coisas”, afirmou.

Segundo ela, há também os valores da sociedade que interferem na saúde do trabalhador, pois culpam o indivíduo por arrumar emprego, se qualificar, não adoecer, sem responsabilizar a empresa ou o Estado.

O trabalho precário e a precarização do trabalho também foram apontados como desencadeadores do adoecimento, sendo que os dois não significam a mesma coisa. “A terceirização é precarização, ou seja, a piora do que já existe.

Hoje, existe a precarização dos vínculos de trabalho, das condições de trabalho, perda de direitos, instabilidade, gestão do medo. Um trabalhador com medo de perder o emprego, por exemplo, vai se sujeitar mais às imposições da empresa”, exemplificou.

Há também a precarização da saúde, com forte tendência de responsabilizar os indivíduos. “Cada vez mais, em vez de pensar o problema no trabalho de forma coletiva, se individualiza o problema.”

Segundo Ana Cláudia, há dois grupos de adoecimento do trabalhador: LER/DORT e transtornos mentais. Neste segundo caso, a discussão com o empregador é mais difícil. “Problemas de hipertensão, AVC (derrame) podem ser provocados pela competição, pela falta de autonomia, insegurança e isso não é relacionado com o trabalho”, disse.


Leitura de texto


Leitura de texto

Vídeo

Os trabalhadores também assistiram um vídeo sobre Ler/Dort e o impacto do estresse no processo saúde-doença. O vídeo abordou a pressão constante por maior produtividade, menos folgas de descanso, movimentos repetitivos, jornadas mais longas, equipamentos inadequados, competição como fatores que ajudam a acelerar o trabalho e trazer sofrimento físico, psíquico, emocional, que gera desgaste e estresse.

No caso dos problemas fisiológicos e psíquicos, eles só aparecem quando a saúde é afetada, mas não são relacionados ao trabalho. As doenças podem gerar depressão, que também não é relacionada ao trabalho.

“O trabalhador precisa prestar atenção aos sintomas e procurar ajuda para resolver o problema. Os médicos e psicólogos podem ajudar o trabalhador doente e cobrar da empresa a melhoria das condições de trabalho, mas se as causas dos problemas não forem atacadas, nada será resolvido.”

Ana Cláudia lembrou que quando se vai discutir metas, PLR, hora extra, redução da jornada, a Cipa não está presente. “É como se a saúde não fizesse parte do contexto. A Cipa tem que estar em todas as discussões.”
Ela também lembrou que as escolas não discutem trabalho e defendeu que esta deveria ser uma disciplina do currículo escolar.

Cláusulas relativas à saúde


Luciana Morgado

A segunda palestra do dia apresentou o resultado de um trabalho feito pelo Dieese, que montou um banco de greves deflagradas em função da saúde. De 2010 a 2012, as paralisações ligadas ao tema cresceram 146%. A maioria foi deflagrada no setor metalúrgico, seguida do setor da construção.

As principais reivindicações foram implantação e regularização da Cipa, readmissão de cipeiros e participação dos trabalhadores nas eleições. “Ou seja, as greves foram provocadas pelo descumprimento da lei”, disse Luciana.

O estudo apontou que as convenções coletivas precisam avançar muito na questão da saúde do trabalhador e que a questão do assédio não está sendo objeto de negociação. “As cláusulas sobre essa questão são mínimas e superficiais”, disse.

Outro ponto levantado foi sobre a implantação de novas tecnologias. “É importante que o Sindicato e a Cipa tenham acesso ao plano da empresa de implantação de novas tecnologias, porque isso tem impacto não só para o emprego como para a saúde do trabalhador”, disse Luciana. Segundo ela, as convenções coletivas não contemplam as demandas/necessidades dos trabalhadores sobre várias questões. E na questão saúde-doença, as empresas deveriam arcar com os custos de manutenção dos programas de saúde.

Por fim, as apresentadoras concluíram que o acesso à informação é de extrema importância para a adoção de medidas efetivas que contribuam para a preservação da saúde, e que os sindicatos devem articular esta questão como representantes dos trabalhadores.

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