Fim prematuro de estímulos deve gerar crise social, diz OIT


Assis Moreira, de Genebra

A supressão prematura dos estímulos fiscais nos países desenvolvidos poderá provocar a perda de 16 milhões de empregos até 2014 e ampliará a crise social nessas economias, alertou a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A perda equivale a 4% do emprego total nos países desenvolvidos, com efeito “nefasto e fenomenal” nas economias já combalidas, sinalizam especialistas da entidade que prepararam um estudo a ser discutido hoje pelos governos.

Vários governos já começaram a desmantelar medidas de urgência que foram adotadas para evitar um desmoronamento da economia mundial. O temor é de que a crise do endividamento da Grécia empurre mais países – ao mesmo tempo – em direção a um aperto fiscal justamente quando a economia mostra recuperação frágil e incerta.

A OIT conclui que a retirada precipitada de estímulos fiscais resultará no mesmo déficit dos governos em 2014, acrescido de mais desemprego e mais crise social. “Líderes mundiais estão escolhendo a recessão”, é o título de editorial do jornal “Financial Times” no fim de semana.

A presidente do conselho de administração da OIT, a embaixadora brasileira Maria Nazareth Farini de Azevedo, nota movimento positivo na área financeira enquanto a crise social do emprego se agrava, sobretudo nos paises desenvolvidos.

“A recuperação do emprego leva de 3 a 4 anos após a recessão. E precisamos com urgência discutir a implementação do pacto social contra o desemprego, com medidas que os governos podem adotar voluntariamente”, afirmou. O Brasil e a França, dois países que se saíram bem melhor do que outros na crise, inclusive em razão de medidas de estímulo, lideram um movimento na OIT para que os governos se comprometam com a implementação do pacto.

“Precisamos de ação concreta para ajudar a economia real, e o Brasil vai mostrar (também num seminário hoje) o que tem feito, como aumento de salário mínimo e medidas na área social”, disse a embaixadora.

A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a entidade dos países ricos, estima que o desemprego vai se manter em “níveis mais elevados do que antes da crise”, e os investimentos serão mais arriscados com o aumento do custo do capital.

Constata que a recessão reduziu a produção potencial das economias desenvolvidas no médio prazo. A OCDE conclui a uma perda permanente da ordem de 3 pontos do PIB em média. Significa menos consumo e as importações em nível relativamente baixo.

Mecanismos de redução temporário do tempo de trabalho permitiram evitar demissões durante a recessão em vários países europeus. Mas globalmente a fatura da crise foi de 27 milhões de desempregados a mais desde 2007 e a tendência é de mais perda de vagas este ano nas economias ricas.

O risco agora é de um aperto fiscal desordenado desencorajar excluir pura e simples do mercado de trabalho muitas pessoas já com dificuldades para ter uma renda, como os trabalhadores mais idosos, os jovens, aqueles com baixo salário e mães solteiras.