Por Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO – No comando da segunda maior central sindical do país, o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT-SP), defendeu nesta sexta-feira o rompimento com o governo federal. Para o dirigente, a “lua de mel” com a presidente Dilma Rousseff acabou.
A postura crítica ao governo federal é um protesto ao adiamento da votação do fim do fator previdenciário na Câmara, para março de 2013, em negociação articulada pelo governo federal.
Paulinho criticou a presidente por não atender os sindicalistas nem contemplar as reivindicações trabalhistas. “Dilma não deixou a Câmara votar [o fim do fator previdenciário] neste ano. Não tem ouvido os trabalhadores nas mudanças que fez em vários setores, como o elétrico, de portos e aeroportos. Ouve só os patrões. Não nos recebe. Nossa postura será de crítica total ao governo”, reforçou Paulinho. “Nossa lua de mel acabou. Durou dois anos, mas acabou. Chega de Dilma”, afirmou Paulinho, depois de reunião da Executiva Nacional da central, em São Paulo .
“A partir de agora vamos adotar a postura da presidente: ela não fala conosco e não falaremos com ela. Vamos às ruas para denunciar os problemas do governo”, disse Paulinho. O dirigente sindical reclamou da falta de diálogo com o governo. “Quem nos recebe é o quinto escalão do governo. Quando era o [ex-presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva], falávamos com ele sempre que precisávamos. Agora, quem nos recebe é a segurança”, disse. A central planeja um ato de protesto ao governo em fevereiro.
Divergências
Dentro da Força Sindical, no entanto, há divergências em relação ao rompimento. Dirigentes afirmaram que o governo federal tem sido “intransigente” e “insensível” na negociação com os trabalhadores, mas ponderaram que a gestão Dilma manteve o crescimento dos empregos formais no país e garantiu o crescimento real do salário. Portanto, a central deve manter-se ao lado do governo.
Para João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical da Força Sindical, a defesa do rompimento é “uma postura pessoal de Paulinho”. “Tivemos um acúmulo de promessas não realizadas e de falta diálogo. Mas não é uma questão de ruptura. Queremos mostrar nosso desagrado com essa postura da presidente”, afirmou Vargas Netto. “Do ponto de vista sindical, o ano de 2012 foi espetacular”, afirmou.
Em nota, a Executiva Nacional da central formalizou a crítica à administração federal, mas evitou falar em rompimento. “Lamentamos a falta de diálogo e interlocução por parte do Palácio do Planalto que tem se curvado para alguns setores financeiros e virado as costas e até em alguns momentos usado as Forças Armadas contra atos da classe trabalhadora”, registrou a Força Sindical, em referência à repressão policial a alguns trabalhadores que pressionavam por mudanças no fator previdenciário, em Brasília.
“Causa-nos estranheza que um governo eleito democraticamente se recuse terminantemente a dialogar com os representantes da classe trabalhadora e trate um importante ator social, que é o movimento sindical, desta forma”. A nota foi divulgada depois da reunião da Executiva da central.
Entre as reivindicações da central estão medidas como a redução da jornada de trabalho sem redução salarial, valorização das aposentadorias, aumento para o servidor público, isenção de Imposto de Renda na Participação nos Lucros e Resultados (PLR).
(Cristiane Agostine/ Valor)