Esta foi a tônica dos debatedores hoje (dia 18), no Ciclo de Debates realizado no auditório da Força Sindical, ao discutir o tema “Sindicalismo e Movimentos Sociais na Imprensa, Comunicação Sindical e Novas Mídias”.
O tema foi discutido por Altamiro Borges, jornalista do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; João Franzin, jornalista coordenador da Agência Sindical; Sérgio Gomes, diretor da Oboré, e Raimundo Pereira, diretor editorial da revista Retrato do Brasil. A mediação foi da jornalista Cristiane Alves, assessora de imprensa do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região.
Borges falou sobre o papel da grande imprensa que foi historicamente adotando posições políticas em defesa do lado patronal. “É uma imprensa de classe, não podemos ter ilusão com ela”, declarou, ao destacar as críticas feitas pela mídia da época contra o ex-presidente Getúlio Vargas, que instituiu a jornada de oito horas de trabalho e garantiu os direitos básicos dos trabalhares, como férias e 13º salário.
Para se defender das críticas, “o ex-presidente Vargas criou o jornal popular Última Hora, que era editado em vários Estados. Mas tudo isso acabou para que se instalasse o complexo midiático. Hoje, no Brasil, sete famílias – Marinho, Macedo, Abravanel, Saad, Frias, Mesquita e Civita – comandam a comunicação. Fazem um trabalho bem feito e manipulam a informação omitindo ou realçando o fato. Por exemplo, escondem a luta dos trabalhadores e quando interessa realçam de forma negativa. No caso de passeatas, mostram o congestionamento do trânsito, afetam nossos valores e mexem com o nosso comportamento estimulando o consumismo e o individualismo exacerbados”, observou Borges.
O jornalista do Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé disse não ter uma receita sobre o que fazer para se contrapor a este cenário, mas apontou dois caminhos: reforçar a mídia sindical e batalhar por legislação que democratize a comunicação. Outra alternativa é os sindicalistas comprarem assinaturas de jornais e revistas aliadas do movimento sindical, como a Retrato do Brasil.
“A comunicação”, declarou, “ deve ser encarada pelo movimento sindical como um investimento na luta de idéias. É preciso investir mais para fortalecer a imprensa alternativa”. Borges afirmou ainda que é preciso lutar pela democratização da imprensa no Brasil e defendeu a lei dos meios da Argentina, que acaba com o monopólio midiático do Clarin.
Melhorar a imprensa sindical
O jornalista João Franzin declarou que se fosse cumprido no Brasil, o artigo 221, da Constituição Federal, o setor de comunicação já estaria muito bom. Este artigo diz o seguinte:
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
Franzin defendeu o diploma de jornalistas e que é preciso melhorar a qualidade dos veículos de imprensa das entidades sindicais. “Agora as rádios e TVs comunitárias podem exibir propagandas e as centrais, federações e sindicatos devem veicular publicidade nestes veículos e em jornais e revistas, como Retrato do Brasil”. Ele propôs também criar uma rede de jornalistas das entidades sindicais para irradiar as notícias.
USP
Sérgio Gomes, da Oboré, informou que finalmente foi fechado um convênio com a Universidade de São Paulo para aproximar a imprensa sindical e a universidade. “Temos que nos reencontrar para aprimorar a qualidade dos veículos de comunicação dos sindicatos. Há possibilidades, depende da gente”.
Gomes destacou que ” hoje temos uma condição muito melhor que antes, com conforto. Todos tomaram café, já sabem com quem almoçar, mas o mínimo que se pode fazer como jornalista é olhar para as pessoas que não conseguiram essa condição social.Só recupera salários (que hoje ainda têm participação reduzida na renda nacional) se tivermos sindicatos fortes e, para isso, precisamos de uma imprensa forte”.
Luta difícil dos trabalhadores
O jornalista Raimundo Pereira, da Retrato do Brasil, disse que a luta dos trabalhadores é muito difícil, mas a saída é se esforçar para desenvolver uma imprensa popular, que publique informações com alta qualidade. Só assim poderá atrair o interesse dos trabalhadores e se constituir como uma força legítima no País.
Por Dalva Ueharo
Assessoria de Imprensa da Força Sindical
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Foto Tiago Santana