Aumento de tributos pode compensar recuo em aperto no seguro-desemprego
POR MARTHA BECK / GABRIELA VALENTE
O Globo
29/01/2015 6:00
Ato. Em SP, trabalhadores protestam contra mudanças no seguro-desemprego – Michel Filho
BRASÍLIA, SÃO PAULO E RECIFE – A equipe econômica já tem um “plano B” para o ajuste de 2015. Segundo técnicos do governo, se forem necessárias mudanças na proposta que restringe a concessão do seguro-desemprego — a fim de agradar às centrais sindicais —, o Ministério da Fazenda está pronto para adotar novas medidas. Nem todos os aumentos de tributos considerados foram usados. E, em último caso, é possível fazer um contingenciamento ainda maior do Orçamento, sendo que a tesourada pode sobrar até para os investimentos.
— Uma coisa é certa. O ministro Joaquim Levy (da Fazenda) vai entregar o primário de 1,2% do PIB, que foi prometido — disse um técnico.
Segundo fontes do governo, as medidas que estão na mesa de Levy poderiam reforçar as receitas em R$ 30 bilhões. Isso representa quase a metade da meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) definida para este ano, de R$ 66,3 bilhões, ou 1,2% do PIB. Até agora, a Fazenda já elevou tributos — Cide, IOF para crédito e PIS/Cofins sobre importados — para arrecadar R$ 20,6 bilhões este ano. Assim, há ainda um reforço de R$ 10 bilhões que pode sair do papel.
Outro integrante da equipe econômica afirma que o governo não terá problema em fazer um corte mais robusto na proposta orçamentária, se necessário. Ele diz que a margem de manobra é pequena, mas nada impede que o governo passe a tesoura em investimentos.
O resultado primário de 2014 será divulgado hoje. O governo se comprometeu a poupar R$ 10,1 bilhões, mas isso dificilmente será confirmado. A fatura a ser quitada por Levy por causa das estratégias aplicadas nos últimos anos é alta. Ele terá, por exemplo, de acertar as contas com os bancos públicos. O balanço do Banco do Brasil em 2014, que sai no dia 11, mostrará se a dívida do Tesouro Nacional com a instituição cresceu. Em setembro, o rombo era de R$ 9,3 bilhões.
DIA DE PROTESTOS NO PAÍS
Nesta quarta-feira, Dia Nacional de Luta, trabalhadores foram às ruas em várias cidades protestar contra as mudanças nas regras de benefícios como seguro-desemprego e auxílio-doença. Em Brasília, cem pessoas fizeram uma manifestação em frente ao Ministério da Fazenda, em ato organizado pela CUT. Eles reclamaram que o ajuste fiscal “recai sobre a classe trabalhadora”.
Em São Paulo, as centrais sindicais levaram cerca de duas mil pessoas à Avenida Paulista. Eles se concentraram no vão livre do Masp e depois foram até o prédio da BR Distribuidora, em protesto contra a corrupção na Petrobras. No Recife, o ato foi em frente à Superintendência Regional do Trabalho.
http://oglobo.globo.com/economia/governo-ja-prepara-plano-para-ajustes-15182319