Fonte: GGN
Luiz Nassif
Jornal GGN – Desde que um fornecedor brasileiro de autopeças foi comprado por uma empresa alemã, as montadoras do interior de São Paulo e da região do ABC estão tendo dificuldades para conseguir materiais e prosseguir com a produção de novos veículos. As fábricas da Volkswagen em São Bernardo do Campo e Taubaté estão paradas há quase uma semana e 12 mil funcionários foram dispensados do trabalho nesse período.
Outras fábricas passam por problemas semelhantes. A filial da VW em São José dos Pinhais também parou por alguns dias na semana passada. As três plantas tinham a Fameq como fornecedora exclusiva de peças estampadas. Acontece que a metalúrgica estava com dificuldades financeiras e acabou vendida para o grupo Prevent, em julho deste ano.
Depois de realizar a aquisição, a Prevent fechou as portas da Fameq e demitiu 180 funcionários. Restaram apenas 20, que tinham estabilidade e serão transferidos para outras unidades.
Em nota, a Volkswagen se queixou da ruptura nos negócios provocada pela venda da empresa brasileira. “Esse fornecedor, com um relacionamento comercial sem problemas com a Volkswagen por mais de 40 anos, teve sua atuação completamente alterada ao ser adquirida pelo grupo Prevent”.
De acordo com a montadora, a Fameq interrompeu as entregas desde meados de julho. Os estoques foram acabando e a VW não teve condições de manter a produção dos modelos Gol, Saveiro, Voyage, Up!, Fox e Golf.
Mas os problemas de abastecimento são ainda mais antigos. Começaram em março de 2015. De acordo com a montadora, desde esse período, as três fábricas somam mais de 100 dias de paralisação na produção. 90 mil carros deixaram de ser produzidos.
Há mais de um ano a Prevent tem uma disputa judicial em aberto com a Volkswagen. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese, desde o início de 2015, o grupo alemão comprou 11 fábricas em São Paulo, Minas Gerais e Paraná – da Keiper, Tower Automotive, Madel, TWB, Cavelagni e agora Fameq. Elas produzem bancos, estrutura de bancos, couro, têxteis, interiores, discos de freios e peças estampadas.
Em maio, a montadora conseguiu três liminares na Justiça de São Bernardo obrigando a Keiper, Mardel e Cavelagni a retomarem a entrega de peças, sob pena de multa diária de R$ 500 mil. Na época, a fábrica da Fiat em Betim (MG) também enfrentou o mesmo problema e obteve liminar na Justiça para que a Mardel e Tower retomassem imediatamente o fornecimento de estruturas metálicas, com multa diária de R$ 200 mil no caso de descumprimento.
A Fiat informou que conseguiu realizar um acordo com o grupo Prevent. A Volkswagen, no entanto, afirma que a empresa descumpre contratos e “reiteradamente faz solicitações de aumento de preços e pagamento injustificado de valores (sem respaldo contratual ou econômico)”. A montadora reclama que o novo fornecedor “tem se mostrado inflexível, elencando uma série de condições (que nada tem a ver com o contrato atual) para a continuidade do fornecimento, incluindo exclusividade para os próximos projetos”.
Para os trabalhadores, o grupo alemão age na base do monopólio de produção de itens estratégicos. O Prevent tem 51 empresas em 13 países nas áreas de autopeças, serviços, construção naval e vestuário de segurança. A sede fica em Wolfsburg, na Alemanha, mas a empresa pertence a um grupo de investidores da Bósnia.
“Estamos lidando com um grupo que faz negociata, compra empresas e depois descarta os trabalhadores como bagaço de laranja”, disse o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres.
Depois que os trabalhadores montaram acampamento nas instalações da Fameq para impedir a retirada dos maquinários, o sindicato conseguiu um acordo no Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. A Prevent precisará pagar aos funcionários demitidos verbas rescisórias, abono salarial de R$ 10 mil e um ano de cesta básica e assistência médica.
“Por acaso, passei em frente à fábrica no sábado e vi as máquinas sendo retiradas. Chamei reforço dos trabalhadores e ficamos acampados para evitar a saída”, disse Luiz Valentin, diretor do sindicato.
Com informações do Estadão