Por Diogo Martins | Do Rio
Casado e pai de dois filhos, Gonçalo Alves da Conceição, 50 anos, foi aprovado em um concurso de nível médio do IBGE para trabalhar temporariamente até 2016, com salário de R$ 850,00, na unidade estadual do Amazonas. O início da jornada foi em agosto, quando ele e outros colegas aprovados no mesmo concurso receberam treinamento. O período de qualificação desses profissionais durou apenas 12 dias.
Depois disso, o IBGE os levou a campo para entrevistar cidadãos. Gonçalo e a equipe em que trabalha são considerados pelo IBGE capacitados para coletar dados para estudos como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), Contínua, Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), Contagem de Domicílios, entre outros. Em fevereiro, o IBGE tinha 10.357 funcionários, dos quais 42,5% eram temporários, segundo a assessoria do instituto.
“O treinamento foi muito fraco, sem didática. Muito do que aprendemos ali não usamos nas entrevistas de campo”, diz Gonçalo, que está se formando em ciências biológicas e se prepara para ingressar no curso de Artes Visuais, da Universidade Federal do Amazonas. Ele diz que gosta de trabalhar no IBGE, mas só continua no instituto por necessidade. “Quem não quer melhorar seu salário? Continuo sempre em busca de novas oportunidades de emprego”, afirma.
Do total de 10,3 mil pessoas trabalhando na instituição em fevereiro passado, 4,4 mil eram temporários. “O temporário tem um contrato de 40 horas, ganha, em média, 1,3 salário mínimo, bem menos que um efetivo, mas faz o mesmo serviço e tem menos benefícios”, observa Ana Carla Magni, diretora do sindicato dos funcionários do IBGE.
Se para os temporários, o IBGE é uma passagem, a falta de perspectiva profissional na instituição foi o que levou a então técnica do departamento de comércio e serviços do IBGE Vânia Rezende a se aposentar em janeiro, após 35 anos na instituição. Depois, ela foi convidada a retornar ao instituto como consultora, mas recusou a proposta. O setor em que trabalhava executa pesquisas como as de comércio (PMC) e de serviços (PMS).
“O IBGE está em um estado total de precarização. Havia dias em que não tínhamos papel higiênico, copo de plástico, ou café para beber”, diz ela, que reclama da falta de um plano de carreiras no IBGE e da ausência de diálogo com a direção do órgão.
Vânia diz que o IBGE precisa de trabalhadores temporários, mas o que está em curso é a substituição gradativa de funcionários efetivos. “Isso compromete os dados das pesquisas. O perfil dos trabalhadores temporários é do jovem universitário, que está ali para usar o IBGE como trampolim para um outro emprego”, afirma. Segundo ela, os trabalhadores temporários sempre existiram no IBGE, mas a contratação desse tipo de funcionário foi intensificada a partir do fim da década de 1990.