Total de trabalhadores no setor dobrou em cinco anos; nos últimos meses, contratações tiveram forte desaceleração, com demissões no ramo imobiliário
Os trabalhadores da construção civil, que até pouco tempo eram beneficiados por um “apagão” de mão de obra, começam a sentir o impacto da crise. O efeito ainda é pequeno comparado com o cenário preocupante enfrentado pela indústria, mas houve retração significativa no ritmo de geração de novas vagas.
Nos meses de maio e junho, foram criados 23,7 mil novos postos de trabalho na construção civil (admissões menos demissões), um volume bem inferior aos 71,3 mil gerados no mesmo período de 2011, revela levantamento do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-SP) em parceria com a Fundação Getúlio Vargas.
No ramo imobiliário, que responde por 40% dos empregos no setor, já há queda efetiva no número de funcionários. Em maio e junho, as construtoras demitiram 2,3 mil pessoas a mais do que contrataram – um número pequeno em relação aos 1,38 milhão empregados do segmento, mas representa uma mudança de tendência.
“Estamos entrando em um cenário de estabilidade da mão de obra”, acredita Eduardo Zaidan, vice-presidente de economia do Sinduscon-SP. Em junho, a construção civil contratou 6.511 trabalhadores, alta de 0,19% em relação a maio. “Pode ocorrer corte pontual de pessoas, mas entramos em uma fase de crescimento mais modesto”.
As famílias estão mais endividadas e adiaram a decisão de comprar a casa própria. Outro fator negativo é a queda dos investimentos das empresas. “A economia parou e o setor acompanhou. O investimento, que é o alimento da construção civil, está baixo”, diz Zaidan.
Nesse cenário, obras já contratadas estão sendo finalizadas, mas não são substituídas por novos projetos. O setor também não atravessa uma boa fase. Com o fôlego financeiro prejudicado pela queda das ações na bolsa, as construtoras alongaram o prazo para finalização das obras, o que possibilita trabalhar com equipes menores.
“Obras que estavam com 500 pessoas agora têm 300”, conta Antônio de Souza Ramalho, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil (Sintracon-SP). Ele diz que o sindicato, que chegou a contabilizar 15 mil vagas em aberto no setor, hoje tem dificuldades para recolocar seus filiados.
Segundo o sindicalista, dois fatores são evidências do desaquecimento do mercado: a queda de 20% na contribuição sindical paga pelos trabalhadores e o aumento do número de homologações. O Sintracon-SP, que fazia 100 rescisões de contrato por dia, não dá conta do número de pedidos diários, que chega a 170.
Para Ana Castelo, professora da FGV, o problema da escassez de mão de obra diminuiu à medida que o setor reduziu seu ritmo de expansão. Na sondagem da construção civil feita pela fundação, o porcentual de empresas que alegam escassez de mão de obra caiu de 52%, em julho de 2011, para 42,5%, no mês passado. Desde 2006, a construção dobrou o número de funcionários, de 1,6 milhão para 3,4 milhões.