De luto
A tragédia causada por incêndio numa boate em Santa Maria (RS), com 233 mortes e 131 feridos, fez a presidente Dilma Rousseff deixar antes do previsto reunião no Chile. Ela foi à cidade prestar solidariedade a parentes e amigos das vítimas e checar ações governamentais de apoio.
Um incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, localizada na região central do Rio Grande do Sul, provocou a morte de pelo menos 233 jovens até às 20h de ontem – 120 homens e 113 mulheres -, na madrugada do domingo. Além das vítimas fatais, outras 131 pessoas ficaram feridas na tragédia, ocorrida entre 2h30 e 2h45, durante uma festa universitária. Foi o segundo pior incêndio do país em número de vítimas, e os relatos indicam que a tragédia se desenrolou em poucos minutos.
Durante todo o dia, a cidade de 260 mil habitantes conviveu com imagens de desespero dos familiares e dos amigos dos jovens. As vítimas fatais foram levadas para um centro esportivo, enquanto equipes de socorro tentavam identificar os corpos. Os governos estadual e federal mobilizaram agentes de saúde para dar atendimento psicológico aos familiares.
A prefeitura de Santa Maria decretou luto de 30 dias, o governo estadual, de sete dias, e o federal, de três. A presidente Dilma Rousseff cancelou agenda de trabalho no Chile e voou para Santa Maria na manhã de ontem, acompanhada dos ministros Alexandre Padilha (Saúde), Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Aloizio Mercadante (Educação). “Eu pedi a todos os meus ministros que possam contribuir para minorar as consequências da tragédia para virem a Santa Maria”, disse a presidente, com lágrimas nos olhos, acrescentando que o país estava junto “nesse momento de tristeza”.
De acordo com a Defesa Civil, 92 frequentadores da casa noturna estavam internados na noite de ontem em hospitais de Santa Maria, enquanto outros 14 foram transferidos para a capital Porto Alegre em helicópteros da Força Aérea Brasileira (FAB).
As causas do acidentes estão sendo apuradas e o Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul vai acompanhar as investigações. Relatos de frequentadores, funcionários e policiais indicam que o local estava muito lotado, havia uma única porta de entrada e saída (sem nenhuma alternativa de emergência) e que o alvará do plano de prevenção e combate a incêndios estava vencido desde agosto passado. Além disso, no início do incêndio, os seguranças da casa noturna teriam barrado a saída das pessoas, imaginando que era um tumulto e que frequentadores tentavam sair sem pagar.
Os relatos colhidos na tarde de ontem eram muito díspares quanto ao total de presentes na festa no momento do incêndio e variavam desde 400 até 1,5 mil pessoas. De acordo com depoimentos de pessoas presentes à festa, o incêndio teria começado quando um dos integrantes da banda “Gurizada Fandangueira”, que se apresentava no local, acionou um artefato pirotécnico conhecido por Sputnik.
As chamas teriam sido produzidas por faíscas que alcançaram o teto do palco da boate, encapado por uma espuma usada como isolamento acústico. Seguranças e os artistas tentaram apagar o fogo com extintores, mas o equipamento não teria funcionado. Minutos depois, houve empurra-empurra na tentativa de abandonar a boate, que tinha apenas uma porta. Os bombeiros abriram um buraco na parede da boate para facilitar o acesso e a retirada das vítimas.
A estudante Taynne Vendrúsculo contou à “Globo News” que só conseguiu sair da boate porque estava perto da porta de saída. “Um amigo viu o fogo. Saímos rápido, dois minutos após o incêndio. O fogo se alastrou muito rápido.”
A maioria dos 116 pacientes que permaneciam internados sofreu intoxicação respiratória e 20% estavam com grandes queimaduras. A avaliação também é que a maioria das mortes foi provocada por asfixia e não por carbonização. Os hospitalizados podiam aumentar nas horas seguintes, segundo as equipes médicas. “É comum as pessoas que respiram gás não sentirem os sintomas no primeiro momento. Mas, horas ou dois, três dias depois, elas podem desenvolver o que chamamos de pneumonia química”, disse o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
De acordo com a Polícia Civil de Santa Maria, um dos donos da boate já havia se apresentado para prestar depoimento, mas o conteúdo não foi revelado até às 20h de ontem. (Agências noticiosas)