Indústria completa em outubro 37 meses seguidos de demissões

Em cenário de pessimismo e de produção menor, emprego acumula queda de 3% no ano

Salários se recuperam, mas empresas cortam horas destinadas à produção diante da demanda mais fraca

PEDRO SOARESDO RIO

Com o fraco desempenho da produção e o pessimismo de empresários, o emprego na indústria voltou a cair em outubro. O número de pessoas ocupadas no setor recuou 0,4% ante setembro.

Foi a sétima taxa negativa seguida nessa base de comparação, segundo dados do IBGE. Nesse período contínuo de queda, o emprego acumula uma perda de 3,9%.

Em relação a 2013, o cenário também é negativo e a indústria completou, em outubro, 37 meses consecutivos nos quais as demissões superam as contratações.

Na comparação com outubro do ano passado, o emprego teve queda de 4,4%. Foi o tombo mais intenso desde outubro de 2009 (-5,4%), período em que o país vivia o auge dos impactos da crise global na economia doméstica.

Com esse resultado, o total do pessoal ocupado assalariado também recuou, 3%, no acumulado de 2014.

Já a taxa acumulada nos últimos 12 meses registra uma queda de 2,8% e manteve a trajetória descendente iniciada em setembro do ano passado –desde então, todos os resultados são negativos.

O emprego na indústria cai na esteira da menor confiança de empresários com os rumos da economia, em razão da freada do consumo, da maior concorrência com importados e da dificuldade para exportar.

SEM REAÇÃO

As contratações no setor não reagiram nem com a melhora da produção no terceiro trimestre, quando a indústria foi destaque do PIB. É que empresários não enxergaram na melhora uma retomada mais consistente.

Pelos dados do IBGE divulgados nesta quarta (10), o valor da folha de pagamento real dos trabalhadores da indústria (indicador do salário no setor) cresceu 1,1% de setembro para outubro. O resultado, porém, não recupera totalmente a perda de 1,3% de setembro sobre agosto.

Com a deterioração do emprego, está cada vez mais difícil para as categorias da indústria obter reajustes acima da inflação.

Outro sinal ruim é que os empresários têm cortado horas destinadas à produção diante da demanda mais fraca, sinalizando que o emprego, em 2015, não deve reagir.

Em outubro de 2014, o número de horas pagas aos trabalhadores da indústria, já descontadas as influências sazonais, recuou 0,8% ante setembro.

Foi a sexta taxa negativa consecutiva, acumulando perda de 4,1% nesse período.

Os dados mostram que, se uma retomada da produção vier, os empresários ainda têm “gordura” antes de contratar. Vão aumentar as horas destinadas à produção com os empregados que já estão nas fábricas.

Desse modo, e diante da expectativa de um 2015 ainda difícil para a indústria, empresários não vislumbram uma melhora das contratações do setor.