A indústria iniciou 2014 com aumento na produção, mas ainda é cedo, segundo os economistas, para esperar uma recuperação sustentada do setor. Apesar da expansão de 2,9% na produção industrial entre dezembro e janeiro, feitos os ajustes sazonais, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a perspectiva para o ano é de desempenho morno. O resultado de janeiro, dizem os analistas, além de não compensar a queda de 3,7% registrada um mês antes, não indica tendências para os próximos meses.
Nas contas da LCA Consultores, a indústria não conseguiu manter em fevereiro o ritmo de crescimento de janeiro. A consultoria estima alta de 0,3% na produção do mês passado, e não descarta variações negativas ao longo de 2014. “O desempenho de janeiro não é referência para o ano”, diz o economista da LCA, Rodrigo Nishida.
No primeiro mês de 2014, a produção foi puxada por automóveis e caminhões, que ajudaram a elevar em 3,1% o resultado da indústria de transformação na comparação com dezembro. Já a produção da indústria extrativa recuou 1% no período. “Para o ano, esperamos o contrário do visto em janeiro. Uma evolução mais contida da indústria de transformação, com recuo na produção de veículos, e avanço na indústria extrativa, impulsionada pela recuperação da produção de petróleo e gás e aumento na extração de minério de ferro”, afirma Nishida, que projeta alta de 1,7% na produção em 2014.
O aumento de 8,7% na fabricação de veículos entre dezembro e janeiro teve grande influência da queima de estoques no início de ano, segundo o economista da LCA. Com a volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a perspectiva de reajuste de preços, muitos consumidores correram para aproveitar as promoções.
Passado esse ajuste, Nishida prevê que a queda nas exportações para a Argentina e a demanda doméstica mais contida – não só pela antecipação de compra, mas também pelo crédito mais caro e pela menor elevação na renda -, levarão a produção de veículos a encolher. O cenário negativo seria minimizado pelo segmento de caminhões, que conta com melhores perspectivas diante do período eleitoral e dos incentivos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI).
Em fevereiro, a expectativa é que o setor automotivo ainda tenha ajudado a impulsionar a produção industrial. Dados da Anfavea, entidade que reúne as montadoras, dessazonalizados pela LCA, mostram que a produção de veículos cresceu 14,3% entre janeiro e fevereiro, com aumento de 17% em automóveis e comerciais leves e queda de 0,9% em caminhões.
A volatilidade, na avaliação de Mariana Hauer, economista do Banco ABC Brasil, será um componente bastante presente no desempenho da indústria em 2014. Os entraves impostos pela Argentina às exportações brasileiras, segundo ela, vão influenciar a produção, que deve refletir também a baixa produtividade e competitividade da indústria local.
“Ainda que internamente não existam indícios de forte desaquecimento do mercado, a indústria não consegue reagir, porque não tem competitividade”, afirma Mariana. Pelos seus cálculos, o crescimento da produção industrial neste ano não deve chegar a 2%, avançando pouco em relação a 2013, quando o aumento foi de 1,2%.
Se o patamar de janeiro fosse mantido até o fim do ano, a produção industrial encolheria 1% em relação a 2013, segundo a Rosenberg & Associados. Em relatório enviado a clientes, a consultoria afirma que apesar do número positivo de janeiro, a perspectiva para o ano é baixista, com a possibilidade de revisão do crescimento projetado para 2014, na faixa de 0,5% a 1%.
A conjuntura econômica doméstica e internacional, avalia o gerente da coordenação da indústria do IBGE, André Macedo, permanece desfavorável para a indústria brasileira. De acordo com ele, o cenário externo adverso dificulta as exportações e favorece as importações, mesmo com a recente desvalorização do real frente ao dólar. “Além disso, os estoques ainda seguem elevados para vários setores industriais”, afirma Macedo.