SÃO PAULO – A indústria de fundição iniciou ontem uma ofensiva em Brasília, com a finalidade de mostrar ao governo federal que a cadeia produtiva antevê uma crise no setor. “A indústria de fundição mostrou diretamente ao Ministério da Indústria e Comércio o cenário do setor. Foi a primeira vez que o setor, isoladamente, fez uma apresentação desse tipo”, afirmou Devanir Brichesi, presidente da associação das empresas de fundição (Abifa). “Nossos custos já aumentaram 13% este ano e em contrapartida os clientes nos ‘apertam’ cada vez mais, com exigências draconianas quanto a preços e prazos”.
No encontro de ontem, a indústria lembrou também a crescente concorrência — desleal, segundo o setor — dos chineses, que aumentam sem parar o fornecimento de peças aos clientes das fundidoras, principalmente à indústria automobilística. A importação de peças fundidas pelas montadoras cresceu 40% nos últimos anos.
A ofensiva do setor continua hoje, quando os empresários terão encontro, ao lado de sindicatos de trabalhadores metalúrgicos, com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. “Vamos mostrar que, diante do câmbio desfavorável e da baixa tarifa de importação, podemos ser obrigados a reduzir o quadro de funcionários”, antecipa Brichesi.
O presidente da Abifa lembra que as montadoras de veículos, responsáveis por 53% das vendas das fundidoras, estão preferindo trazer peças do exterior do que comprar localmente.
Devanir Brichesi diz que a situação só não é mais grave pelo aumento da demanda por parte de fabricantes de caminhões, ônibus e tratores, que usam mais componentes de ferro nos seus produtos.
“No primeiro trimestre, a produção cresceu mais de 43% na comparação com janeiro-março de 2009”, informa o presidente da Abifa. “É um número positivo, mas ainda estamos abaixo da produção de fundidos de 2008”. A produção somou 711,587 mil toneladas nos três primeiros meses deste ano, contra 495,851 mil no primeiro trimestre do ano passado.
As exportações cresceram 32,4% no período em volume, em relação a janeiro-março de 2009, mas a alta foi de 23,7% em dólares. “É consequência direta do efeito-câmbio”, garante Brichesi.
Ele assegura que, apesar da situação difícil, o setor de fundição não quer discutir o passado com o governo. “Nossa preocupação é com o futuro”, assegura. “A cadeia produtiva de ferramentaria, por exemplo, está desestruturada pela concorrência externa. Será que é isso que o País quer para sua economia?”
Theo Carnier