A inflação do País segue controlada, mas a cesta de produtos para as famílias mais pobres deve continuar mais em conta do que para as mais ricas. Apesar disso, o elevado nível de desemprego tem limitado os ganhos na renda nas camadas mais baixas.

No acumulado em 12 meses até março, os preços para os consumidores que ganham menos de cinco salários mínimos estão menores do que a inflação dos que ganham acima. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) – que contempla famílias com renda mensal de um a cinco salários mínimos – registra alta de 1,56%, enquanto a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), está rodando a 2,86%.

Os dois indicadores são calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), por sua vez, produz o Índice de Preços ao Consumidor – Classe 1 (IPC-C1), que mede a inflação das famílias com renda abaixo de 2,5 salários mínimos. Essa pesquisa mostra que, em 12 meses até março, os preços para essa faixa estão com elevação de 1,45%.

O pesquisador do Ibre-FGV André Braz avalia que a inflação continuará menor para os mais pobres do que para as camadas mais altas, ao longo de todo ano de 2018. Isso porque os alimentos, que têm sido a principal âncora da inflação baixa no Brasil, são os produtos que mais pesam na cesta das famílias mais humildes. “Quanto menos se ganha, mais se compromete o orçamento com a alimentação”, ressalta Braz.

“A oferta de alimentos tem se mantido regular e a taxa de câmbio não está produzindo nenhum efeito negativo nesses produtos. Então, considerando que há uma estabilidade cambial e que temos safras agrícolas robustas, tanto domésticas quanto internacionais, vemos um cenário bastante promissor para a alimentação em 2018 ”, acrescenta Braz.

O pesquisador do Ibre comenta que a prévia da inflação de abril, medida pelo IPCA-15, continua indicando um quadro bastante controlado para a inflação, em decorrência dos bons preços dos alimentos. O IPCA-15 deste mês, divulgado na última sexta-feira registrou alta de 0,21%, menor taxa para abril desde 2006, quando o índice registrou 0,17%. No ano, a elevação de preços ficou em 1,08%, menor nível para o período janeiro-abril desde a implantação do Plano Real. Já no acumulado em 12 meses, a alta foi de 2,80%, taxa igual ao período imediatamente anterior.

Ainda na prévia de abril, o grupo Alimentação e Bebidas apresentou variação positiva de 0,15% no mês; de 0,98% no ano e deflação de 1,63% nos últimos 12 meses. Braz pondera que o transporte público, que registra aumento de 2,52% em 12 meses até março no INPC, também pesa na cesta da baixa renda, mas que a alimentação tem compensado as elevações de tarifas de ônibus.

ServiçosJá a cesta de produtos dos mais ricos ficará mais pressionada, principalmente pelos planos de saúde e pelos serviços de educação, como escolas particulares, os quais, lembra Braz, avançaram acima da inflação nos últimos três anos. Somente os planos de saúde cresceram cerca de 13% em 2015,2016 e 2017. Nesse período, o IPCA variou 10,67%, 6,29% e 2,96%, respectivamente. O pesquisador do Ibre destaca ainda que as escolas particulares já subiram 7% neste ano. As tarifas públicas, como água e luz, que também subiram no último período, são outros fatores que impactam a inflação das famílias de alta renda, pois, quando mais ricas, mais aparelhos eletroeletrônicos as pessoas possuem em casa, o que encarece as contas de energia elétrica e de água.

No entanto, devido ao elevado nível de desemprego, a inflação baixa ainda não consegue promover ganho na renda dos pobres, que estão com o poder de barganha reduzido. Os que estão ocupados, com medo de perder emprego, não pedem aumento de salário.